O Teatro do Absurdo nasceu do Surrealismo, sob forte
influência do drama existencial. O Surrealismo, que explora os sentimentos
humanos, tecendo críticas à sociedade e difundindo uma idéia subjetiva a
respeito do obscuro e daquilo que não se vê e não se sente, foi fundamental
para o nascimento desse gênero que buscava, na segunda metade do século XX,
representar no palco a crise social que a humanidade vivia, apontando os
paradigmas e os valores morais da sociedade como fatores principais da crise. A
principal fonte de inspiração dos dramas absurdos era a burguesia ocidental,
que, segundo os teóricos do Absurdo, se distanciava cada vez mais do mundo
real, por causa de suas fantasias e ceticismo em relação às conseqüências
desastrosas que causava ao resto da sociedade.
Como o próprio nome diz, o Teatro do Absurdo
propõe revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo que é
considerado normal pela sociedade hipócrita. Essa vertente desvela o real como
se fosse irreal, com forte ironia, intensificando bem as neuroses e loucuras de
personagens que, genericamente, divulgam o homem como um psicótico, um
sofredor, um ser que chega às últimas conseqüências, culminando sempre na
revolução, no atrito, na crise e na desgraça total. Extremamente
existencialista, o Absurdo critica a falta de criatividade do homem, que
condiciona toda a sua vida àquilo que julga ser o mais fácil e menos perigoso,
se negando a ousar, utilizando-se de desculpas para justificar uma vida medíocre.
Eugene Ionesco
O Teatro do Absurdo foca principalmente o
comportamento humano, deflagrando a relação das pessoas e seus atos
concomitantes. O objetivo maior desse gênero é promover a reflexão no público,
de forma que a maioria dos roteiros absurdos procuram expor o paradoxo, a
incoerência, a ignorância de seus personagens em um contexto bastante
expressivo, trágico, aprofundado pela discussão psicológica de cada personagem
apresentado, com uma nova linguagem. Para Ionesco, Membro da Academia Francesa,
autor de um dos primeiros espetáculos absurdos, como A Cantora Careca (1950),
“renovar a linguagem, é renovar a concepção, a visão do mundo”. Essa
linguagem é traduzida não só nas palavras de cada um dos personagens, e sim em
todo o contexto inovador, pois cada elemento no Teatro do Absurdo influencia a
mensagem, inclusive os objetos cênicos, a iluminação densa e utópica, além dos
figurinos. Todos esses elementos materiais do espetáculo contribuem para o
enriquecimento da mensagem que deve ser clara para não haver dúvidas por parte
do público. A ironia constitui-se numa figura de linguagem extremamente difícil
de ser praticada no palco, pois, exagerada ou mal formulada, pode ganhar um
sentido contrário àquele intencionado pelo diretor. Um outro fator importante é
que, no Teatro do Absurdo, muitas vezes o cenário, o figurino e a nuanças nas
interpretações se tornam ainda mais importantes do que o próprio texto. O texto
em si promove uma nova leitura, cuja concepção tornará possível a construção
cênica dentro de um viés preferido pelo diretor.
Samuel Beckett
Um dos autores de vanguarda do Teatro do Absurdo é
Samuel Beckett autor do clássico Esperando Godot, que conta a história de dois
personagens que esperam ansiosos por ajuda numa terra onde nada acontece de
inovador, onde tudo se repete sem cessar, obrigando os angustiados personagens
a tentar iludir a tristeza e frustração. Esse texto traduz perfeitamente a
essência do Absurdo, sendo Beckett uma pessoa que, desde jovem manifestava seu
dom à rebeldia, sendo um homem contrário a religiosidade, mesmo sendo de
família protestante, além de ser um homem adepto à revolução dos costumes. O
Absurdo, assim como o Dadaísmo, promoveu a revolução na linguagem e na
ideologia da sociedade, obtendo muitas críticas de um público que, apesar de
proletário, consumia o idealismo burguês da época. Harold Pinter (1930- ),
autor de Velhos Tempos, O Zelador, A Coleção e o autor americano Edward Albee
(1928 - ), autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, buscaram a orientação absurda
para tecer suas críticas em favor das classes menos favorecidas, constituindo
obras anti-literárias, com o mesmo brilhantismo de Ionesco e Beckett (que
ganhou o Prêmio Nobel em 1969), com identidades próprias que lhes deram lugar
de destaque na história da arte dramática.
A partir das ideologias de Artaud de quebra com os
paradigmas clássicos do teatro ocidental, surgiu o “Teatro Pânico”, uma forma
de Teatro do Absurdo calcado no drama e em contextos que mostram a revolta do
autor perante o mundo. Apesar de possuir algumas idéias artaudianas, o Teatro
Pânico mantém elementos básicos do teatro ocidental, como o diálogo de seus
personagens. Esse gênero foi essencial para reafirmar o Teatro do Absurdo como
vertente teatral, propondo a forma agressiva de expor seus personagens numa
crítica mordaz contra a sociedade, onde homens e mulheres vivem suas vidas num
limite extremo, sempre numa virtual solidão.
Fernando Arrabal
A concepção de Teatro Pânico nasceu em fevereiro
de 1962, em Paris, e misturava terror com humor. A filosofia pânica diz que a
memória é fundamental para o homem, pois esse não passa de um grande fundo de
saberes que, com o passar dos anos, compõe um quadro estético, ético e moral.
Na visão de um dos principais diretores do Teatro Pânico, o espanhol Fernando
Arrabal, autor de A Guerra dos Mil Anos, o Pânico mistura a vida privada com a
vida artística, o lirismo e a psicologia, onde o teatro passa a ser encarado
como um jogo, ou uma festa. Muitos associaram o Pânico com o Dadaísmo, gênero que
contesta a razão em prol do subjetivo. Dessa forma, os espetáculos pânicos
propõem, acima de tudo, uma linguagem extremamente transcendental em relação
aos temas abordados. Nada disso poderia ser possível sem a estruturação do
Teatro do Absurdo que possibilitou no homem uma evolução no que se diz respeito
aos seus dogmas.
BIBLIOGRAFIA
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José Olympio Editora, 1993
ROBERTO FARIA, JOÃO, O Teatro na Estante. – São
Paulo: Ateliê Editorial, 1998
JANVIER, LUDOVIC, Beckett
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