quarta-feira, 30 de março de 2022

Coletânea Poetas Vivos


VOLUNTAD


En el medio al silencio que petrifica los versos
una espada invisible rasga la cortina de sombras
y revela el azar.

De las memorias adormecidas del paso en cenizas,
aún tibias, una chispa insiste en la proeza
de encender la carne.

Así, entre el punto de partida y el lugar deseo de llegar
há una especie de abismo que si une por un hilo estirado
donde la voluntad si equilibra.

 

Wilson Coêlho

Foto de Yolanda Onandía



E querem me matar pela poesia."

Jornal GGN. Edição: Lourdes Nassif.



Há 104 anos nascia Maria Joanna, minha mãe. Queria ter tido o privilégio de conviver mais tempo com ela, mas nasci caçula e rebelde.

 Com ela descobri as primeiras paixões pela leitura. Me contava histórias e lia cordel pra mim.

 Posso dizer que aprendi e aprendo a ser homem com esta mulher. Minhas duas filhas e minha neta continuam me ensinando todos os dias porque esse aprendizado nunca acaba.

 Lembrar pessoas amadas fortalece a ideia de que nunca estamos só.

 AMAR é um verbo maiúsculo.

 

Lau Siqueira



CANÇÃO DE OUTONO

 

Estes sons finos

destes violinos

do outono

enchem minh'alma

de uma onda calma

de sono.

E recordando,

pálido, quando

sôa a hora,

soluço os idos

dias vividos

de outrora.

E assim à-tôa

sou, no ar que voa,

que importa?

uma perdida

folha caída

e mora.

 

Paul Verlaine

Tradução: Eduardo Martins

Raptado da time line de Lau Siqueira no facebook



mulher de nuvens

para Micaela Albertini

 

fosse eu uma mulher de nuvens

não estaria aqui presa

a este mar nas marés suor ou cio

passaria com o vento

sem deixar rastros vestígios

pegadas

voaria sobre estradas

sem destino cais ou porto

viajar mesmo sem nenhum conforto

ou calmaria nas partidas

ou ventania nas chegadas

 

Rúbia Querubim

www.personasarturianas.blogspot.com  




                                                                         ontem gargaú

hoje buena

vida plena

nas asas da poesia

algaravia em meu pedal

 

estrada que vai dar no mar

estou me guardando para o carnaval

 

Federico Baudelaire

www.coletivomacunaimadecultura.blogspot.com




Dê livros

Dê Lírios

Dê Beijos

 Doações para Biblioteca Bracutaia – endereço: Ong Beija Flor – Casa da Solidariedade – Rua Ari Parreira, 26 – Barra Velha – Gargaú – São Francisco do Itabapoana-RJ – 28230-000


 era uma vez um mangue

por onde andará Macunaíma

na sua carne no seu sangue

 

na medula no seu osso

será que ainda existe algum

vestígio de Macunaíma

na veia do teu pescoço?



Eu

quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora quem está por fora
não segura
um olhar que demora de dentro de meu centro
este poema me olha

 

Ali

ali

ali
se

se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse

se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce

ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece

 

 

Paulo Leminski

clic no link para ver o vídeo

https://www.facebook.com/artur.fulinaima.5/videos/972786253599345



ISOLAMENTO

 

À janela

um céu resvalando azuis pelo poente

nuvens em pinceladas escassas

andorinhas ambulantes entre idas e vindas

Chegar, verbo inconjugável

haverá retorno para aquele que não vai?

Como voltará sem caminho marcado

terá andado muito, pouco, quase nada

ou resvalado os dedos na calçada cinza?

De que são costuradas as partidas, os destinos, as chegadas?

Por onde se guardam as mãos na espera por nada, por ninguém?

Quantos são os olhares vazios deixados por aí, a esmo

no breu comprido das melancolias amontoadas pelas esquinas?

Lá fora

tão longe

um céu azul a desligar o dia

nada sabe ele - o céu - dos homens dispersos pelas ruas, guardados em si na solidão das pessoas

- nem as andorinhas -

Hoje só teremos salvação depois de ultrapassadas as nossas margens de loucura

Em que instante dessa tempestade

tornamo-nos tão estrábicos de alma?

 

(Nic Cardeal, 11.03.2021 - Texto escrito há um ano, mas para mim atual, pois continuo seguindo as orientações sensatas dos cuidados necessários para evitar o contágio à covid...

#poemasdesobrevivênciaàquarentena



Acreditei que se amasse de novo

esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei...
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos.

 

Também eu saio à revelia
e procuro uma síntese nas demoras
cato obsessões com fria têmpera e digo
do coração: não soube
e digo da palavra: não digo (não posso ainda acreditar na vida) e demito o verso como quem acena
e vivo como quem despede a raiva de ter visto.

 

Aventura na Casa Atarracada

Movido contraditoriamente
por desejo e ironia
não disse mas soltou,
numa noite fria,
aparentemente desalmado;
- Te pego lá na esquina,
na palpitação da jugular,
com soro de verdade e meia,
bem na veia, e cimento armado
para o primeiro a andar.

Ao que ela teria contestado, não,
desconversado, na beira do andaime
ainda a descoberto: - Eu também,
preciso de alguém que só me ame.
Pura preguiça, não se movia nem um passo.
Bem se sabe que ali ela não presta.
E ficaram assim, por mais de hora,
a tomar chá, quase na borda,
olhos nos olhos, e quase testa a testa.

 

Nada, Esta Espuma

Por afrontamento do desejo
insisto na maldade de escrever
mas não sei se a deusa sobe à superfície
ou apenas me castiga com seus uivos.
Da amurada deste barco
quero tanto os seios da sereia.

 

Quando entre nós só havia
uma carta certa
a correspondência
completa
o trem os trilhos
a janela aberta
uma certa paisagem
sem pedras ou
sobressaltos
meu salto alto
em equilíbrio
o copo d’água
a espera do café

 

Ana Cristina César




Anedotas na dura partida de Olga Savary ontem. Trago a memorável amizade amorosa com Carlos Drummond de Andrade, junto a um poema inédito dele para sua ''Olenka":

'[...] Nunca me atraiu como homem, mas sempre mexeu comigo. Como poeta, era de tirar o fôlego. Tinha vontade de pegá-lo no colo, como uma mãe, mas ele não gostava nada dessa história. Eram outras as suas intenções [risos]. Uma vez, na fila do banco, eu disse para ele que adorava a amizade amorosa que havíamos construído. Ele ficou furioso: “Amizade amorosa coisa nenhuma, isso é amor!”. Fiquei muda, passada. Drummond era discretíssimo, tímido, mas naquele momento se tornou um alucinado, gritava em plena fila de banco. (...) Ele me chamava de Olenka, diminutivo de Olga, em russo, e fez um lindo poema para mim, que nunca foi publicado.

 

''Miragem

 

Chegou, impressentida e silenciosa,

Com uma saudade eslava nos cabelos

E um ritmo de crepúsculo ou de rosa.

Os olhos eram suaves e eis que ao vê-los,

Outra paisagem, fluída, na distância,

Sugeria doçuras e desvelos.

No coração, agora já sem ânsia,

paira a serenidade comovida

que lembra os puros cânticos da infância.

Logo depois se foi, mas refletida

nesse espelho interior, onde as imagens

se libertam do tempo, além da vida,

Olenka permanece, entre miragens.''

 

(1955)

Por Mariana Basílio



ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA
Org. Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Hipocampo, Fundação Rioarte, 1992. 334 p. ilus Ex. bibl. Antonio Miranda

 

PÁTRIA(R)MADA

 

só me queira assim caçado

mestiço vadio latino,

leão feroz cão danado

perturbando o seu destino

se só me queira encapetado

profanando àqueles hinos

malandro, moleque, safado

depravando os seus meninos.

só me queira enfeitiçado

veloz, macio, felino

em pelo, nu, depravado

em sua cama sol a pinos.

e só me queira desalmado

cão algoz e assassino

duplamente descarado

quando escrevo e não assino.

 

CARNE PROIBIDA

 

o preço atual proíbe que me coma

mas pra ti estou de graça

pra ti não tenho preço

sou eu quem me ofereço

músculo e osso leva-me à boca

se completa o teu almoço.

 

LENÇÓIS DE RENDA

 

Eu poderia abrir teu corpo

com os meus dentes

rasgar panos e sedas

com as unhas

arreganhar as tuas fendas

desatar todos os nós

da tua cama arrancar os cobertores

rasgando as rendas dos lençóis

 

perpetuar a ferro e fogo

minhas marcas no teu útero

meus desejos imorais

maldizendo a hora soberana

com a força sobre humana dos mortais

quando vens me oferecer migalha e fruto

como quem dá de comer aos animais

 

Artur Gomes

poemas dos livros

Couro Cru & Carne Viva – 1987

www.suorecio.blogspot.com

Pátria A(r )mada – 2019

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com





Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

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