sábado, 24 de maio de 2025

Poesia Ali Na Mesa

Relatividade estética

 

Vemos

o plástico materializando-se

em kitsch flor inerte

 

Ouvimos

os trinados do sertão

berrados em gemidos dissonantes

 

Cheiramos

amadeirados odores marinhos

em nauseantes perfumes

 

Provamos

transgênicas essências colorizadas

em sabores artificialmente pasteurizados

 

A indústria da pseudocultura

tritura tudo ao pó

como simpático brinde

de um brilhante engano

***

Labirintos urbanos

 

O emaranhado de caminhos

projetam infinitas opções

 

Mas...

nem todas escolhíveis

nem todas alvissareiras

nem todas possíveis

nem todas certeiras

 

Lança-se ao tráfego

feito plasma na artéria

em pulsante êxtase

 

É mergulho inevitável

aos que habitam

o labirinto urbano

***

Não gosto do glacial

 

O mundo poderia ser

um Caribe ou um Nordeste

 

Terras de sonhos e de luz

de ilusão e de tesão

 

Do delírio da razão

 

Tudo fruto do calor

que agasalha, que assanha

que se espalha em façanhas

 

A alegria brota com a luz

cresce na temperatura e seduz

 

Um cenário

pra sempre viver

Já o frio...

 

O frio dói.

 

***

 

Termômetro social

 

Marquise de meia água

se faz em sala

No vão livre compartilhado

se põe a cozinha

Os baixos do abandonado viaduto

se oferece em quarto

A árvore frondosa se dá

em devassado banheiro

O banco duro da praça

em pétrea cama

E a dignidade humana

abaixo de zero.

***

Leituras

 

Nas curvas

de um bom discurso

nos perdemos

Discursos dopam

flertando à adicção

de eterna dependência

Podem ter pontos

único: final

múltiplos: reticências

Mas sempre embarcamos

nesse atraente

ziguezaguear alucinante

Não há como viver

sem a palavra

cativando nossas ilações

***

Anatomia

 

O cérebro celebrado

A hipófise hipotética

A laringe alaranjada

A tireoide tirana

A traqueia traqueada

O pulmão pulverizado

O brônquio bronqueado

O coração encouraçado

O estômago estonteante

O fígado fidalgal

A vesícula visada

O baço embaçado

O intestino instintivo

O apêndice apensado

A próstata prostrada

A glande glandular

O testículo testado

Causa mortis:

Pletora adjetival substantivada.

***

Plenilúnio

 

Vejam quem veio

nos visitar...

Redondamente linda,

refletindo as luzes

do universo

Eternamente suspensa

dando

sua beleza infinda

para quem quiser

alegremente

apreciar

 

Vejam

quem veio nos visitar...

Redondamente linda,

refletindo

as luzes do universo

Eternamente suspensa

dando sua beleza infinda

para quem quiser

alegremente apreciar

 

Vejam quem veio nos visitar...

Redondamente

linda, refletindo

as luzes do universo

Eternamente

suspensa

dando sua beleza

infinda para quem

quiser alegremente

apreciar

 

        Franklin Valverde

*

  

H  O  J  E

dia de sorrir, sofrer, resistir, como sempre foi com os dias.

Hoje

só mais um na coleção.

Passo a limpo o que não entendo

o que não desce na garganta e fere o coração

o que me completa e atordoa, a tudo libero.

Hoje

onde tudo acontece e transborda.

Um acalanto para hoje.

*

M DE MEDO 

para Aílton Krenak

 

Está guardado, aguardando, o livro de K que prometi

sobre nossa travessia no deserto

para quando nos encontrarmos novamente

e em termos, sobrevivido,

será seremos mais cuidadosos?

Cruzaremos a linha dos estereótipos?

Nos veremos livres na outra margem?

 

Medo medo, que medo é esse?

Se por cima tem o manto de um azul que afronta

amplidão arredondada, sem pontas

se já sabemos que a sombra e a dor passarão

ou não? Que medo é?

Mee  Dooo.

*

LEVEZA

 

A poeira dos dias baila

na transparência da luz

e desaparece por enquanto.

Na queda deslize vertical

uma folha esbarra na poeira dourada da tarde.

*

O INSTANTE ME CAPTA

 

Estou sem apoio sobre rodas

o sol e a estrada testemunham o vazio

meus perigos, os perigos do mundo.

Ousei olhar a água, a lama, a claridade, o fundo

quis amar a ausência sem sofrer

desejos se localizando macios

percorrendo caminhos

finalizando em suspiros.

 

Estou em perigo sobre nuvens

novamente o vazio me mostra o pleno.

*

HISTÓRIA CURTA

 

Nascemos hoje e já nos enterram em covas apressadas

querem parar nosso sangue antes que avermelhe

todas as artérias

secar os rios antes do amor dos peixes.

Sabemos tão pouco e querem nos calar.

*

 ENCONTROS 

para Claudio Willer

 

Marquei encontro com Rimbaud, Piva, Elliot, Mário de Andrade

em algumas esquinas do mundo próximo e distante

luzes brancas me guiarão nas noites e becos, sombras e perfume de jasmim.

O medo me paralisará nas ladeiras, mas seguirei sorrindo no escuro, guiada pelos olhos dos gatos fiéis

até enxergar o arco-íris.

Em leito de folhas secas descansarei do cansaço da espera

pelo encontro em que todos

brincam o jogo do esconde, do onde, ande

 esqueça.

*

Ieda Estergilda de Abreu

Autora de  Mais Um Livro de Poemas (1970), Grãos-poemas de lembrar a infância (1994, 2023), A Véspera do Grito e O Jogo do ABC (2001), Pandemonias (2025). Nasceu em Fortaleza-CE, em 1943. Bacharel em direito e jornalismo, repórter, redatora e cronista no Correio Braziliense e Jornal de Brasília. Em S. Paulo, repórter no Jornal do Bairro, Guaru News, assinou crônicas e entrevistas nas revistas Planeta, Caros amigos, Bons Fluidos, Continuum (Itaú Cultural), D.O. Leitura (Imesp, e também organizou perfis para col. Aplauso); assistente editorial na ed. Ática; coordenou projetos Tietê Água Boa e Por Um Rio, leituras do Tietê (Bibl. Munic. Alceu Amoroso Lima, 2013, e na pandemia); realizou oficina sobre a poeta Eunice Arruda, bibl. Raul Bopp, 2024. Participou do Canal do Poetariado e do sarau  Gente de Palavra 

*


choveu pedra em São Francisco do Itabapoana se de gelo ou granizo inda nem sei só depois da apuração da comissão de inquérito instaurada por alguns moradores da localidade  do Macuco saberei.

 

                       Federico Baudelaire

 

cada qual com sua Natureza , pode ser garoa ou correnteza , é o tempo comandando a sua Fortaleza

 

                                       Zhô Bertholini

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O Sol de César

poema de Salgado Maranhão

do livro em processo

"ARTE DE MATAR"

O Extraordinário, Magistral, Magnífico, poeta Salgado Maranhão, estará na 12ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ - dia 4 de junho ao lado de Pedro Luis - na mesa Entre A Poesia E A Música - das 18:30 às 19:30h na Arena das Ideias -

Imperdível

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 O poeta enquanto coisa


o meu lugar não é aqui
o meu lugar não é ali
o meu lugar é lá

onde garrincha entorta
os laterais esquerdos
dibla até o goleiro
e debaixo da trave
não faz o gol

um desacerto

volta ao meio do campo
para re-começar o desconcerto

Artur Gomes
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*

*

Poesia Ali Na Mesa

Balbúrdia PoÉtica

A resistência através da poesia

* 

DIAMANTE

 

O amor seria fogo ou ar

em movimento, chama ao vento;

e no entanto é tão duro amar

este amor que o seu elemento

deve ser terra: diamante,

já que dura e fura e tortura

e fica tanto mais brilhante

quanto mais se atrita, e fulgura,

ao que parece, para sempre:

e às vezes volta a ser carvão

a rutilar incandescente

onde é mais funda a escuridão;

e volta indecente esplendor

e loucura e tesão e dor.

 

Antônio Cícero

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*

 beijo mascado

 

Página em branco

Canção sem palavras

Suspiro

 

Um risco arrisca a palavra

A pena me falha no meio

Soluço

 

A palavra vale o poema

Segue a mão o que dita o coração

Arrepio

 

Poemas precisam de palavras

Alguns pedem silêncio

Tento

 

A vida passou hoje por aqui

Deixou gravada sua escrita

Marco

 

Faço poesia como vento

Dissipo ideias sobre seus cabelos

Desfaço

 

Queria saber escrever com seus lábios

Morder as palavras, sugar o sentido

Beijo

*

 a pausa

 

a pausa contém

o que não se vê

em movimento

 

o que não tem hora

e lugar para acontecer

o efêmero

 

na pausa está o que

não está na ordem do dia

o extraordinário

 

a pausa salva o dia

 *

día de los muertos

 

são eternas as dores,

a falta, as cores, as flores mortas

são presentes as perdas

as sendas, veredas e pedras

passadas sob meus passos

são permanentes as rugas, fissuras,

lacunas criadas no interior das velhas veias

saltadas da minha fronte

que ainda irrigam ridículas ideias

são felizes as lembranças do que fica

tatuado indelével na retina

nada se vai, nada mais termina:

meus mortos não morrem jamais

 *

 Close your eyes and listen

[ouvindo Piazzolla]

 

feche os olhos e ouça

passar na escuridão

as claras belezas da manhã

o mar em toda a amplidão

a atração no andar da moça

 

ouça

tudo o que se pode ver

e só a alma pode identificar

que a solidão pode captar

e o ouvido dar direção

 

mas ouça com atenção

cada palavra não dita por não ser precisa

 

sinta com precisão

toda dor esquecida por ser antiga

 

saboreie com emoção

qualquer pequeno prazer por ser único

 

feche os olhos e ouça

as formas e cores de cada sentido

veja o perfume macio dos lábios molhados

tateie a profundidade cortante do horizonte

deguste o céu azul e o sol sobre o caminho

 

agora abra os olhos e silencie

o calar tem muito ainda a dizer

 

                               Abel Coelho 

*

POEMA CULPOSO

 

Desculpe, leitor,

se a minha poesia

provoca algum dolo

ou causa alguma dor.

 

Ela não teve essa intenção

(ela só quer lhe dar amor).

Se machucou, me releve. 

 

O poeta colhe os frutos 

e paga o preço do que 

escreve. 

*

SE EU MORRESSE AMANHÃ

(LIRA DOS 60 ANOS)

 

Se eu morresse amanhã, viriam ao menos

fechar meus olhos cinco das minhas irmãs.

Minha mãe de tristeza já não morreria

se eu morresse amanhã 

ou se eu morresse em qualquer outro dia.

 

Se morresse amanhã eu sofreria

menos do que se morresse depois de amanhã.

 

Nunca tive glórias; sempre dei com a cara no muro.

E não há glórias por vir, nem hoje, nem amanhã.

Jogo pra cima uma moeda no meu quarto escuro:

cara pra morrer hoje, coroa pra amanhã;

o cigarro aceso revelará o meu futuro.

 

Não ficaria devendo nada, se amanhã eu morresse!

Fiz o que eu quis, e não o que queriam que eu tivesse feito. 

Se eu morresse amanhã, chorar no meu leito viriam ao menos cinco das minhas irmãs.

Eu, se fosse elas, não choraria quando eu morresse.

E que ninguém chorasse sem verdade, como quando perdemos nossa mamã.

 

Mas essa dor que nunca foi embora

e que sempre acreditei que iria amanhã,

essa dor malsã finalmente morreria

se eu morresse amanhã.

*

CORPOGRAFIA 

 

Na geografia do teu corpo

exploro planícies, recôncavos,

vales, rios e montes.

 

Na macia vegetação da tua pele

me banho de sol e de lua

e descubro incríveis

tesouros orvalhados

de água e de terra,

de árvore e de folha,

de fruto e de flor

constantemente renovados.

 

Nada relevo das tuas vertentes,

corpografia de lua e de sol ardente,

cachoeira de sombra e de água fresca

que corre, escorre e sacia,

deixando a tua grafia

na rústica terra do meu corpo.

 

                    Remisson Aniceto 

*

O TEMPO JÁ ESTEVE AO NOSSO LADO


O tempo...

este moleque eterno,
extremamente arteiro,
olha fixamente nossos rostos e,
de repente,
dá sua risada
humilhante
de Rolling Stone.

Como se fosse gente,
e nós, já deixando de ser,
caminhássemos
para o definitivo
anoitecer.

*

AVENIDA

Descendo a Consolação,
sentido centro, sentindo a dor no coração
que bate tristonho por alguém que nunca mais irá ver.

Não há nada que o console
a não ser aquela música
de Elliott Smith,
esta balada do grande nada,
no fone, na vida, nas vias da cidade.

Até pensa em dar fim,
mas que fim, ô, mané!
Há tanto para viver
que nem sequer desconfia.
Tchau, mãe! Tchau, pai! Eu vou... viver?

Sim, viva!
Invente poesia,
grite longe a fobia
de estar neste mundo,
envolvido pelo desconhecido.
Num instante você tem 20, no próximo movimento, 30,
no piscar de olhos seguinte, 50.

Não há garantias, mas
talvez um não prometido prêmio surja,
talvez o deus-silêncio o responda.
O Buda improvável das calçadas ou o rato de Clarice.
Ou, quem sabe, o caos surja buzinando nos cruzamentos
gritando mais alto que o poema.

Palmas ao caos! Palmas ao caos!

Não se impressione com as buzinas,
porque uma buzina nada vale em um caminhão desgovernado
antes de chegar à Roosevelt.
Aí tudo haverá acabado,
a não ser pelas notícias nos telejornais.

Ainda assim, os gurus do Vale do Silício dizem que vale a pena
e os senhores de Wall Street, em seus manuais, não ousam dizer menos.

Então grite o bem e o mal,
o gozo e o desgosto,
o doce e o amargo.
A Consolação vazia
ou o trânsito intenso.
Grite toda vida, aqui tudo é barulho. Ou poesia.

*

A BIFURCAÇÃO


Quantas são as bifurcações que encontramos
no caminho?
Quais foram as escolhas que nos tornaram
o que nos tornamos?

Como seria se eu não a tivesse negado
tal carinho?
A mão se afastando, guardada enfim no bolso do jeans envelhecido.
Como seria eu ceder aos prazeres da carne
ou aos deveres da procriação?
Que filho teria nascido?
Menina ou menino, ou outro caminho?
Será que nos amaria ou fugiria de casa antes dos dezoito?

E se eu tivesse sido mais atrevido ou fosse mais comportado?
E se eu estivesse descansado ou me sentisse oprimido?

E se eu tivesse me espantado com a complexidade de tudo e da realidade fugisse?
Pedra, pó ou hóstia?
Cachaça, poesia ou prosa?
Guimarães ou Jorge Amado?
O triste fim de Policarpo Quaresma ou de Macabéa?
E se eu chorasse tanto, tanto por Baleia?

Se você me dissesse,
se eu enfim lhe abraçasse,
se não fosse o seu medo,
ou foi uma tremenda falta de caráter?

E se eu tivesse comprado outra roupa,
outro livro?
E se eu tivesse escolhido outro prato,
um sanduíche barato?

E se eu topasse o salário
e você escolhesse outro candidato?
E se eu nem ouvisse a proposta
ou me cansasse de esperar a resposta?

Se eu desistisse, se você tentasse,
ficaria mais tenso ou estaria à vontade?

Se fosse de uva e não de maçã?
Se não fosse igreja e, sim, bacanal?
Se eu lesse um poema novo neste sarau,
estaria eu
enfim pronto pro desapego final?
Para a última estrada e
última bifurcação encontrada?
Para cada decisão tomada?

Não tenho dúvidas: diria “não”
e continuaria a escrever, com vocês,
esta história.

                   Alessandro de Paula

*

Etecétara …



Definir poesia   seria torcer-lhe o pescoço …

Versos são encantarias
Acontecem espedaçados
Aqui , aí, ali em “ um” tudo …

…nas virilhas e nas solas dos pés do inconsciente …coletivo … continuam futuros ancestrais …

Versos desaparecem  ligeiros das mãos dos poetas
para reflorestar o coração das pessoas …  também ardem na língua de incrédulos , êxtases …incorruptíveis ao algoritmo ainda …  …convidam à vida inteira … num instante à deriva dos tutoriais  …

A poesia guarda tradicionalmente apenas a medida do impossível  ...
Emerge das desordens humanodivinas ...vívida …
guardiã das florestas de dentro…rocha … rio … rascunho de outras eras … semeadura …

Evoé aos versos livres ,
nos anais das revoluções ...
Nem todo corpo suportará o impacto , o êxtase ...

Coragem não resolve narrativa poética . É de contato , intimidade , anarquia
na fruição dos sentidos ...das utopias ... das rebeldias … do “absurdo “ legitimado  nos olhos dos amantes … decisivo …
que se sustenta um poema  … entre outros segredos … que os “ beatniks” sabiam … e George Harrison cantou …

Serpente ígnea ascendente ... assim a poesia se lança à frente das
minhas descrenças ... arriscada  surpresa divina  sem saudades …  … doce e brutal correnteza …

De repente , eis -me aqui  dissolvida em seu gingado .... dança de fogo … estrela guia … barro … beija flor …sangue … sol ..osso … desgosto … pó de mico …outra coisa  … nua  …concomitante  à lua…

Roguemos à terra alguma  valentia poética  minha , sua , nossa alheia à domesticação ...fugidia de estrofes herméticas acostumadas a subserviência …


Rosnemos ao vento

Na fuça das métricas convenientes
Rimemos nada com nada 
aventurados apenas

nesta

autodescoberta

fabulosa  … 

incessantemente …

ser …
Livres
Amorosos
Utópicos , que seja …

*


NOTÍCIAS:


Poeta fecha caminho ... leva a pessoa amada embora em
três dias , duas estrofes ululantes e uma rima ruim...

Um poeta foi visto comendo verso grelhado com salada
sozinho , mal acompanhado e apaixonado ...

PseudoPoeta “cagou e andou “ para o poema ...
Poeta devorou suas vísceras com pinga , no centro picadei-
ro , à deriva dos corvos ...

Um poeta foi flagrado com a esperança em riste , em praça
pública neste amanhã ...

Atenção ! atenção ! Um poeta está sendo acusado de curar
ferida alheia com três versos . A reportagem apurou que o “
milagre “ foi apelidado de “ Haicai “...
Poetas Pa -tá-ti Pá-tá -tá , Piti e Pi-ri-ri foram vistos foram
vistos reunidos na mesa de um bar para salvar Gotham
City... evoé

Poeta Maomé e poeta Montanha se unem contra a polariza-
ção e a favor da democracia perpétua
Pesquisa científica revela a existência de mais espécies de
poetas do que de pássaros selvagens ..
.
As especieis mais populares são Poeta Virtual , Poeta Zé
Ruela , Poeta portifólio , Poeta alucinógena , Poeta alucina-
do , poeta Panfleto , Poeta de Autoajuda , Puta poeta , Poeta
Pseudofilosóficosuicida , Poeta Marginal , Poeta Marciana
, Poeta Enrustido , Poeta de sábado e domingo , Poeta pop
, Poeta de rua , Poeta Faria Lima , Poeta Palhaço , poeta de
lua , poeta muso , poeta mascate , poeta de araque, Poeta
revolução permanente , poeta viralizada , poeta chiclete ,
poeta baunilha , poeta em lata , poeta orgânico , poeta es-
querdomacho , poeta dom Ruan e muitos outros .

Os pesquisadores confirmam que graças a Deus não se tem
qualquer indício confiável da existência de poeta fascista ,
racista , sexista , homofóbico , mito , misógino e similares .
Glória a Deus . Estes são os patifes de sempre mesmo , que
não suportam a poesia ...

A nova ortografia atualizou o significado da palavra poeta :
palavra rançosa , demorada e bonita para designar amadores ,
sonhadores e afins não domesticáveis

*

Amor Aos Pedaços

Muitas Cabeças na volta da mesa, só uma goiabada : Bahia

*Para minha família nordestina ,  especialmente pra minha  mãe Monita Bonita

 

                               Carolina Montone

*

• EU ODEIO POESIA

 

Eu odeio poesia!

Já disse isso?

Pois volto a dizer com toda a força de meus pulmões:

EU ODEIO POESIA!

Odeio as rimas fáceis,

casamentos métricos, estrofes corretas

odeio amores coloridos ou doloridos

Odeio os já puídos babos às montanhas, ao sol e à lua.

Relações impossíveis, paz de mentirinha,

hipocrisia barata...

como eu odeio isso tudo!

Odeio o mundo solitário e idealizado dos poetas

Quero falar através de milhões de personagens

quero ser cada um deles

quero multiplicar a minha existência

quero partilhá-la entre todos esses seres

que vivem dentro e fora de mim.

Não vou ficar trancado no quarto escuro da poesia

a que fui confinado

Acendo todas as luzes

procuro janelas

Estou sufocado

quebro paredes

rompo as amarras

saio pro mundo…

Quero romances reais, estou carente de uma boa prosa.

Preciso conhecer pessoas como Fernando

Visitar os campos de Haroldo e de Augusto

Me sentir um "mané" balançando bandeiras

Ser casto como Alves ou arguto como um anjo

Abrir as gavetas e o armário de Andrade

Quero enrolar a minha língua e meus sentidos

com Mallarmé, Goethe, Pound, Valery,

Maiakovsky, Baudelaire, Neruda...

Quero entornar taças com Torquato

se possível a ler Leminski

Quero levantar com Caio

e ter a paz de dormir com Drummond.

Quero apenas...

Claras planícies

E mais...

Quero morrer com o dedo sempre em Hilst

*

• BAILARINO

 

dentro de mim vive essa teia

alma ateia por quem oro

algo carola, algo cigana

horas santa, horas sacana

me benzo com sobras de bagana

nessa veia pulsa sangue

derramado em muita luta

desse lado e de tantos

mantras matam falsos santos

sou judeu, sou angolano

alemão e muçulmano

me banho em tina palestina

meu sangue é negro puro

sugado do escuro dos porões

minha veia é seiva mamada

do seio incerto dessa terra

sou indígena, sou inca, sou nada

sou homem e mulher em incesto

detesto a verdade incontroversa

busco nos versos

liberdade

*

• ETERNA ESPERA

 

sobrevivendo

às chibatadas

às amarras

ao medo

ao porão molhado

às lágrimas e gritos

sufocados

ao desterro sem volta

trancados na alma

em naus sem rumo

sobrevivendo

à fome

a um modelo amoral

em que cofres transbordam

pra senhores do mal

em troca da fome

de gente sem fama

sem sorte

à espera da morte

sobrevivendo

a outra arma que mira

quem mora no morro

em qualquer periferia

bala cravando

outra cabeça de negro

da criança que ria

do pobre que chora

e por vida implora

sobrevivendo

a tantas porradas

aos choques e torturas

à força bruta

de tantas ditaduras

à mais triste sina

ratos na vagina

alicates no pênis

jovens e velhos

jogados ao mar

mortos sem nome

boiando de volta

sem nunca chegar

ao velho destino

à terra natal 

                    Marcelo Brettas

*

Na minha terra…

Não se coroa ninguém.

Aqui mulher é de vento, de rio, de mata. Não uso coroa

Nem Preciso subir tronos

flutuo com os olhos de estrela

e o riso de quem conhece o fundo do mundo.

Realeza se faz de aparência.

Eu?

Sou feitiço antigo,

sou chamada da noite.

E quando caminho,

as águas param só pra ouvir

 

Rose Mary Lobato

v(l)er no blog Balbúrdia PoÉtica 

https://fulinaimtupiniquim.blogspot.com/





Aos que não rastejam

 

Não, eu não serei cadela de madame,

nem sombra aduladora de medalhão inflado.

Se para ter é preciso curvar a espinha,

prefiro o nada.

Há nobreza na recusa,

há perfume na flor que apodrece sem ser colhida.

Que me deixem na sarjeta, mas inteira.

Com as mãos sujas, sim...mas minhas.

Eles beijam os sapatos que chutam.

Sorriem com dentes ocos.

Adulam, inclinam, gemem

— tudo em nome do brilho de um nome

que não é o deles.

Vendilhões da alma.

Corcundas douradas por dentro do esgoto.

E o mundo aplaude.

Mas eu,

maldita por opção, não.

Escolho a vertigem do abismo

à estabilidade da coleira.

Não me elevem em tapetes falsos.

Quero o chão, o vidro, o estilhaço.

Quero a dor do que é meu.

Meu fracasso, sim...mas, limpa.

Porque quem rasteja para subir

nunca mais anda ereto.

 

Simone Bacelar

Salvador 24/05/25

 Nunca fomos colonizados, fizemos foi Balbúrdia anti-colonial.

                                   Sady Bianchin

*


                               Ou a gente se Raóni

Ou a gente se Sting

Uma metade passa fome

Outra metade faz regime

 

Luis Turiba

          educação gramatical

 

ela tem um travessão

atravessado

na frente da palavra quero

me diz: espera

não por falta de desejo

tenho medo de dois pontos:

os seus olhos os seus beijos

pra onde você quer me levar

de tudo que a exclamação possa engendrar

respondo:

coloco vírgulas ponto e vírgulas

reticências qualquer outro sinal

abro parênteses

(os meus poemas nunca vão ter ponto final)

 

Artur Gomes

28 julho 2023

Poema do livro O Homem Com A Flor Na Boca

leia mais no blog

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*

origem 1

 

eu não sou

de onde nasci

 

eu não sou

de onde vim

 

nenhuma língua me engana

nenhuma terra me enterra

 

eu sou

onde estou

 

eu sou

onde sou

 

Tanussi Cardoso

*  


eu, liberdade


sou livre, sim.
liberdade do tipo que faz barulho
com o corpo inteiro —
até os ossos fazem festa
quando passo pelas esquinas do tédio.

tenho uma inteligência inconveniente,
dessas que não se curva
pra nenhum deus de gravata.
meus pensamentos mastigam convenções
como quem tritura gelo
numa noite de insônia.

carrego ironias no bolso,
como quem guarda pedrinhas
pra atirar em telhados de vidro.
às vezes finjo que acredito no sistema,
só pra vê-lo tropeçar
no próprio verbo.

liberdade é meu codinome,
mas não essa de outdoor
nem de bandeira lavada.
é a que acorda comigo
com o hálito amargo da verdade
e um sorriso de navalha.

eu sou livre porque sei rir —
principalmente de mim.
e isso, coisa de raro engenho,
é o que mais assusta os ignóbeis.

tenho um sarcasmo terno,
feito beijo na testa antes do adeus.
e uma lucidez que atormenta,
mas anda ereta,
mesmo quando manca.

se quiser me entender,
não leia o que escrevem.
desconfie.
sou livro escrito à unha,
sem capa e páginas arrancadas.

sou labirinto com saída,
mas sem mapa.
e quem me encontra,
nunca mais quer se perder.


                         Simone Bacelar

*


Subversiva


A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha Como puta Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.
E promete incendiar o país.

                  Ferreira Gullar

*

FERIDAS

 

Então eu disse

Mamãe há uma ferida na minha perna.

Há muito medo em mim.

Ela se prolifera por minuto

como os pés de milho no mundo.

Já coloquei sobre ela folhas molhadas de malva e alecrim

mas não houve nenhuma cura, ainda que eu pedisse.

Ontem vieram, à tarde, homens e meninos

com suas roupas escafandras.

Trouxeram-me biscoitos orientais

leite fervido, amoras pretas

coxas fritas de passarinho

olharam, passaram as mãos,

mas nada fizeram pela cura da ferida.

Veja nela a diferente forma de árvore

saindo daquela portinhola pintada de barcaças vazias.

Espanta-me essa seiva de pólen de flores

que dela escorre.

Peço-lhe, ainda que lhe seja estranho

derrame seus cabelos que cantam,

sobre a minha ferida.

Deixe que as estrelas iluminem essa cama

e durma enquanto eu dormir.

Sei de dores de outros que se encontram no campo

mas, peço-lhe, durma sobre a minha perna ferida.

*

AS CENTO E ONZE PICAS

Celso de Alencar (do livro Poemas Perversos - Editora Quaisquer 2010)

 

Foram unhas

excitadas do inferno

que deixaram expostas

aos olhos do mundo

as cento e onze picas.

Estão mortas

as cento e onze picas.

Eternamente mortas.

Não veio do gozo

o gemido ouvido

no labirinto. 

Foi do vendaval de chumbo

estacado na carne aflita.

Cento e onze bocas mortas.

Cento e onze vaginas órfãs.

Estendidas sobre

o largo piso frio,

enfileiraram-se para o pouso

de insetos de mortos.

Negras, brancas, pálidas,

as cores não importam.

São apenas

cento e onze picas mortas.


                           celso de alencar

*

Facury e Jiddu presenças marcantes na Balbúrdia PoÉtica 6 - realizada mo dia 17 de maio - 2025 - das  20h a 1 da madrugada do dia 18 - na Usina4 Casa das Artes - Cabo Frio-RJ

SER OU NÃO TER

 

Para a nossa eterna anarquia

cabocla,

caiçara,

caipira,

seja qual nome queiram dar,

o pai do posto maior

nunca nos serviu bem

Qual mito vamos necessitar?

Um místico apocalíptico

Tipo o Conselheiro

ou um militar genocida

Tipo o Caxias ...?

Se é pra ter nessa politrica um pai,

melhor um que nos prometa o céu

ou um que nos arremeta ao inferno?

 

                          José Facury Heluy

*

              se eu soubesse o endereço

 

se eu soubesse o endereço

das estradas que atravesso

marcaria outro começo

no final da madrugada

vestiria um linho branco

numa calça engomada

e beberia um vinho tinto

na boca da namorada

 

                                             Artur Gomes 

*

Luis Avelima, Rubens Jardim, Artur Gomes, Cesar Augusto de Carvalho - Balbúrdia PoÉtica 4 realizada em dezembro de 2024 na Patuscada Livraria Bar & Café - São Paulo em homenagem a memória de Rubens Jardim e Luis Mendes 
*

corpoesia

 

no sarau

a poesia

muda

 

no corpo

a língua

muda

 

na língua

a vida

vive

 

César Augusto de Carvalho

*

jura secreta 39

quando tenso
o poema penso
fio suspenso no
Ar

quando teso
o poema preso
peixe surpreso no
Mar

Artur Gomes
foto.poesia

https://braziliricapereira.blogspot.com/

 *


furo

                     o que te perfura?

uma broca

uma bala

uma faca

uma britadeira

uma falta

um insulto?

                           um poema

uma

metáfora

te

per

fu

ra

?

 

Yara Fers

*

com uma câmera nas mãos

um poema na cabeça

vamos filmar o poema

antes que desapareça

 

Artur Gomes

*

eco lógica

 

fosse o brasil

mulher das amazonas

caminhasse passo a passo

disputasse mano a mano

guardasse a fauna e a flora

da fome dos tropicanos

 

ouvisse o lamento dos peixes

jandaias araras ciganos

e nossos indígenas africanos

não estaríamos assim condicionados

aos restos do sub-humano

 

Artur Gomes

Dos livros: Couro Cru & Carne Viva – 1987

*

Em O Inventário do Pêssego, 2020 Editora Casa Verde


* 
Aos predadores da utopia 


dentro de mim
morreram muitos tigres
os que ficaram
no entanto
são livres


                              Lau Siqueira 

*

                     Poema

 

o poema é

a nudez que me veste

na mesma derme que

rasga as novenas e os

vetores do nome que

sou quando apenas

respiro

fraudulento  da minha

espécie

pensando sentindo

sentindo pensando

( )

queria cinco

pares de unhas afiadas

para escrever meu poema

pelas paredes

como grafitagem

beleza escondida

nos becos


Lau Siqueira 

*

me visto de poesia

quando encarno faustino

com kimono de judô

um prefácio no intestino

na estrada que o destino

                     me bashô

 

            Rúbia Querubim

*

Eu queria tornar a língua molhada.

Fazer a palavra retornar pra boca.

É a língua da boca que fala a língua.

Palavra vem molhada de saliva.

 

Viviane Mosé

do livro desato

*


Prefácio

 

Quem fez esta manhã quem penetrou

À noite os labirintos do tesouro.

Quem fez esta manhã predestinou

Seus temas a paráfrases do touro.

As traduções  do cisne: fê-la para Abandonar-se  a mitos essenciais,

Deflorada por ímpetos de rara

Metamorfose alada, onde jamais

Se exaure o deus que muda, que

transvive. 

Quem fez esta manhã fê-la por ser

Um raio a fecunda-la, não por lívida

Ausência sem pecado e fê-la ter

Em si princípio e fim: ter entre aurora

E meio-dia  um homem e sua hora

 

Mário Faustino -  

O Homem e sua Hora

*

 “o amor não é apenas um nome

que anda por sobre a pele”

 

Gigi Mocidade

viraliza

para Samaral - in memorian

 

tudo mudo

nada muda

mudança só haverá

quando a massa

explodir a argamassa

do poder que escraviza

 

Artur Gomes

*

tenho sangrado demais

tenho chorado pra cachorro

ano passado eu morri

mas esse ano eu não morro


sons palavras são navalhas
e eu não posso cantar como convém

sem querer ferir ninguém 

Belchior 

*


tudo é perigoso

tudo é Divino maravilhoso

atenção para o refrão:

é preciso estar atento e forte

não temos tempo de temer a morte

 

Caetano Veloso

*


 

Hoje eu só vim agradecer
Por tudo que Deus me fez
Quem me conhece sabe
O que vivi e o que passei
O tanto que ralei
Pra chegar até aqui
E cheguei, cheguei

Lembro de vários veneno
Eu ainda menor
Nunca sonhei pequeno
A minha coroa me criou sozinha
Levantando sempre no raiar do dia
Bem cedo

Sempre aprendi com ela
A ser grata pelo que ainda vem
Hoje tu só vê os close
Nunca viu meus corre
Mas pra quem confia em Deus
O sonho nunca morre

Fé pra quem é forte
Fé pra quem é foda
Fé pra quem não foge a luta
Fé pra quem não perde o foco
Fé pra enfrentar esses filha da puta

Fé pra quem é forte
Fé pra quem é foda
Fé pra quem não foge a luta
Fé pra quem não perde o foco
Fé pra enfrentar esses filha da puta

Fé no proceder, na luta e na lida
Enquanto a gente não conquista
Segue em frente firme
Que a nossa firma é forte
Nunca foi sorte, irmão
Sempre foi Deus, sempre foi Deus

Hoje eu sonhei
Que um dia eu estaria onde ninguém pensou
Se Ele quiser, eu piso onde ninguém pisou
Humildade e sabedoria pra me guiar
E o impossível é possível pra quem acreditar

Fé pra quem é forte
Fé pra quem é foda
Fé pra quem não foge a luta
Fé pra quem não perde o foco
Fé pra enfrentar esses filha da puta

Fé pra quem é forte
Fé pra quem é foda
Fé pra quem não foge a luta
Fé pra quem não perde o foco
Fé pra enfrentar esses filha da puta

Oh mãe, oh mãe do céu
Abençoai, abençoai
Abençoai a correria
E o nosso pão de cada dia

Oh mãe, oh mãe do céu
Abençoai, abençoai
Abençoai a correria
É minha fé que me guia

Fé pra quem é forte
Fé pra quem é foda
Fé pra quem não foge a luta
Fé pra quem não perde o foco
Fé pra enfrentar esses filha da puta

Fé pra quem é forte
Fé pra quem é foda
Fé pra quem não foge a luta
Fé pra quem não perde o foco
Fé pra enfrentar esses filha da puta

Fé pra quem é forte
Fé pra quem é foda
Fé pra quem não foge a luta
Fé pra quem não perde o foco
Fé pra enfrentar esses filha da puta

Oh mãe, oh mãe do céu

 

Iza

*

 "Nunca fomos catequizados fizemos foi carnaval".

Oswaldo de Andrade

*


Libertação

 

libertar palavra

como soltar a fera

o cão danado

desmedir o verso

como descartar o peso

não mais mordaças

ou ranger de dentes

só a voz, a chave para o salto

o voo da ave fugidia

e ao fim das formas

do horror do claustro

ousa, ousa, minha poesia:

o medo é uma prisão

e eu acabo de sair dela

*

CRUEZA


sou língua de sal
não poupo palavras

em mim nenhum Deus
em mim só um homem

que peca e execra
e desfeito em dores

sobrevive a quedas
sem nenhum pudor

à sorte me atrevo
só creio em meus atos

vejo o que não devo:
o osso em vez da carne

 

Jorge Ventura 

*

Um girassol se escondeu por trás do portão de entrada. Entre suas pétalas cantava minha amada um blues rasgado desses que não se houve mais -

a branca flor o azul do mar e a menina dos meus olhos com a luz de Iemanjá quem dera fosse a minha namorada e chegasse sem aviso só preciso dos teus olhos e da luz do teu sorriso

o impulso aqui não é pouco o espírito grita dentro do corpo deliro feito louco de tanta sede e fome como quem não vive em paz como quem não come há muitos séculos atrás

 

Artur Gomes 

*

                            Ou a gente se Raóni

Ou a gente se Sting

Uma metade passa fome

Outra metade faz regime

 

Luis Turiba

*

 amor, então,

também acaba?
não, que eu saiba.

o que eu sei

 é que transforma
numa matéria prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.

ou em rima

*

A Vida é as vacas

Que você coloca no rio

Para atrair as piranhas

Enquanto a  boiada passa 

 

Paulo Leminski 



Vou onde me perco, sempre me perco.

sou contra o tédio de me encontrar.

só assim me reconheço:

cega aos rasgos de cada ruga,

aos riscos das minhas fugas e

aos tropeços do meu caminhar.

 

Beth Brait Alvim

In Língua febril.2022, Penalux

* 

sucumbo de imaginar de sedução e simpatias

gosto de fugas e só não corro 

porque espreito o voo 

 

me encanto toda noite e dia e daí me afogo 

 

minha prótese está no coração 

cheio de enguias

 

Beth Brait Alvim

In A febre e a mariposa, Patuá, 2018

*

Sou a carpideira que lava

as portas de pedra

das mulheres 

sós 

 

Beth Brait Alvim

In Muros, bunkers e bordéis.  Reformatório, 2025

* 

Helvetia

 

serpentes margeiam em minha cabeça cheia de facas

toda madrugada

quase nasce o sol e os besouros rugem voando raso

sobre o asfalto gélido

da Rua Helvetia

Suas antenas polidas acenam bom dia manhã bom dia

São Paulo bom dia Brasil

Mas mal escondem a bílis nas calças de cetim coladas

dos donos de horrores

 

ah dias obesos de destruição em

que fiapos de gente rastejam

nus

pretos

e sós

 

a quem importam as mães e suas barrigas coaguladas

da sujeira de carimbos

a merda escorrendo na perna da criança

que subvive no bueiro do cu da avenida limpa por garis

de uniformes novinhos

 

na madrugada

o cacetete e o cano forjam o crime do menino do

moinho e

eles enfiam

mordem

matam

e é fake

pois inventam que nada de mal acontece e a culpa é

sempre de quem não tem pele branca

nem grana

 

Beth Brait Alvim

In A noite e o meio. Córrego, 2019

*

 Fora(m) os muros 

  

Tenho os joelhos trincados por quedas 

e fugas 

e os cotovelos ásperos 

desde menina

 

de tanto escalar muros 

para ver o que eu não via 

e ao menos roçar no que 

ainda não existia   

 

e me fundir aos dias inventados 

espiando o horizonte 

 

hoje coço 

o queixo cerrado 

e evoco 

algum mistério 

 

escavo telhas,  

cavoco linhas e atalhos, 

pequenas e grandes cicatrizes 

na fronte, 

e esfrego os olhos 

para não ver a aspereza, 

esse frio de cimento, 

suas marcas, 

lamentos, 

bandeiras 

e seus corpos

 

- que ninguém mais me ouça: suplico uma cegueira fulminante 

que encarcere 

no branco esquecimento 

o corpinho 

beijando a morte 

de areia 

a dois passos 

do outro lado.

 

em casa diziam: pensar demais faz mal. 

 

e hoje eu só sei derrapar nos muros, 

paredes e janelas de cimento, 

grades e embarcações. 

 

Meu peito derrete de demolição 

e desmaios em moto contínuo 

a cada segundo, 

mais pesada de concreto, 

areia, 

ferro, 

ossos e pó.  

 

Houve um tempo em que a saliva 

reduzia os danos e as histórias 

na esquina da quitanda 

refrescavam os corações.

 

As chacotas e o esgar de uma mãe sisuda, 

de um ou de outro menino, 

punham longe o medo 

e a vontade inconfessa 

de ser pego 

em pleno delito 

com os bolsos caindo de balas. 

 

Antes,

muros valiam o risco, 

a espreita, 

a descoberta, 

a surpresa.

 

Atrás deles, lá de cima, 

no fio da zona interdita,

a vida escorria.

 

Dentro de um deles,

um bilhete secreto

vira eterno, 

socado e escondido 

no buraco do 

reboco fresco. 

 

(poucos dias depois meu pai 

incrustou 

naquele muro de quintal novo 

a geleia fria do cimento 

lacrando para sempre 

meu segredo)

 

atrás do muro, um outro mundo,

 

hoje,  

a loucura levanta e derruba muros. 

hoje, 

vendem cacos do muro de Berlim 

como souvenir

e matam de sede 

gente que só conversa 

com o muro das lamentações ...

...

mas não faz tanto tempo assim 

Marina e Ulay   

andaram a muralha 

da China 

inteira 

 

cada um num extremo

até se encontrarem  

 

para que o mundo visse 

a lonjura 

que concretou 

 

o fim 

do seu amor 

 

Beth Brait Alvim

2019. Para o evento internacional Um mundo sem muros, 2019. C

Curadoria nacional, São Paulo: Cláudio Willer. Será publicado no livro Muros, bunkers e bordéis, Editora Reformatório, que será lançado na FLIP 2025.

*

Soneto do Pássaro Tonto

 

Sou este coração cheio de lascas,

um peito que encrespa sob uns pés tortos,

navio sem mar, à deriva, sem porto,

um cão bravio preso na mordaça.

 

Minha alma afunda como uma carcaça

por vezes boia como um peixe morto,

é fino fio que emenda um pano roto,

das bestas famintas, ela é a caça.

 

No bico trago a lua dos desertos

e pairo no céu qual pássaro tonto,

desenhando o sol, remendando cortes.

 

Mas hoje não existe o salto certo.

Só pousar em covas que nem mais conto:

voo raso e vazio rumo à morte.

 

Beth Brait Alvim

In - Língua febril, edição especial bilíngue, Editora Penalux,2022

* 

POESIA

 

súbita

irrefreável

sorrateira

abraça o inusitado flash

na fresta da porta

ainda emperrada

embota os decibéis

 

possíveis

torce meu cotovelo como um

 

véu de flor de ipê caída na terra

lambendo delicada 

 

o canal lacrimal

desde a mata ardente

da mata viva

até o dorso do amor que

não volta

espreita

vara de marmelo 

 

saliva do céu

vermelho estarrecedor

 

correndo nas veias

seringa

nas plantas dos pés

ah

o vazio do sossego

 

vem

nas mãos engorduradas 

 

de pimenta

aqui

no umbigo do meu desleixo

no final da tarde

eu deixo

vem

 

me toma

me revira

poesia

 

me devora

mora na minha alma e

 

arde

 

Beth Brait Alvim

In - A noite e o meio. Editora Córrego, 2019

*

 Lácio

 

Cavoco os poros

atrás de raízes.

 

Imploro aos bruxos

outra poção

 

e a receita é esta:

 

não seja do Lácio,

nem a que me enlace

 

aos troncos primais...

 

Farejo nas terras

uma outra verdade.

 

Materna idade,

primeira raiz.

 

Mea língua inteira

é fértil e arde.

 

Minh’alma primeira,

Te peço: não tardes.

 

Quero mais que festa.

Quero mais que gentes.

 

Quero ter, urgentes,

cravadas na testa,

 

frescas e expostas,

as minhas sementes.

Beth Brait Alvim

In - Língua febril, edição especial bilíngue, Editora Penalux,2022

*

 A casa nos ombros

 

no peito ronca solitário um caramujo velho

e sem dentes que 

arranhem os tímpanos

de deus e os serrem para enfim

nos elevarmos além de sua surdez e de seus

pesadelos tão 

sérios

 

Beth Brait Alvim 

In-  A febre e a mariposa, Patuá, 2018

*

 AGORA

 

É hora

de amolar a foice

e cortar o pescoço do cão.

— Não deixar que ele rosne

nos quintais

da África.

É hora

de sair do gueto/eito

senzala

e vir para a sala

— nosso lugar é junto ao Sol.

 

ADÃO VENTURA (1946 - 2004)

*

Angra

 

assim como o pau-brasil

a flor do mangue

                também sangra

 

                 Rúbia Querubim

*

aqui nem coca

nem cola

nem bola 
não vivo de fantasia 


o que rola aqui é poesia

 

Pastor de Andrade - 

o antropófago

*

eu sou

o que invoca 
o que provoca 
incorpora 
desconcentra 
desconforta 
desconstrói 
e desconcerta

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020 

*

MOENDA

 

 usina mói a cana

o caldo e o bagaço

 usina mói o braço

a carne o osso

 usina mói o sangue

a fruta e o caroço

 tritura suga torce

dos pés até o pescoço

 e do alto da casa grande

os donos do engenho controlam

o saldo & o lucro 

*

A vida

sempre em  suspense

alegria prova dos nove

fanatismo não me convence

muito menos me comove

 

                Artur Gomes

 in Suor & Cio - 1985 e Pátria A(r)mada - Desconcertos Editora –  2022

*

aonde vai cinzia farina

toda vestida de letras

como quem grafita na areia

um espelho d´água

à beira mar na lua cheia?

 

            Federico Baudelaire

*

USINA

 

rente à palha dos aceiros

o suor escorre à face

nas entranhas do nariz

 

e no solar da casa grande

é uma tarde de festas

regada a vinhos de Paris

*

herói nacional

 

meu coração marçal tupã

sangra tupi e rock and roll

meu sangue tupiniquim

em corpo tupinambá

samba jongo maculelê

maracatu boi-bumbá

                  a veia de curumim

                  é coca cola e guaraná


Artur Gomes

Suor & Cio – 1985

* 

eu quero beijos

vermelhos

que deixam

marcas de batom

nos espelhos

 

Federika Lispector

Direto de Recife para a Mostra Visual de Poesia Brasileira 

*

arte digital: Ademir Bacca 
*

POEMINHA DO CONTRA

 

todos esses que aí estão

atravancando o meu caminho

eles passarão

eu passarinho

 

               Mário Quintana 

*

BAIAFRO

 

essa áfrica nos meus olhos

e navegar é minha sina

em toda febre todo fogo

que incendeia o continente

nos teus olhos de menina

eu sou um poeta

e nunca fui a china

mas vermelho é o meu sangue

desde que nasci

*

equilibrista

 

sei que os loucos

sempre cantam nos hospícios

e eu, canto aqui

o meu poema carne & osso

comendo as sobras do tacho

raspando o fundo do poço

 

correndo o mesmo perigo

enquanto ginga enquanto samba

minha palavra meu ofício

mas uma vez na corda bamba

*

Profissão


meu ofício

é de poeta

pra rimar

poema e blusa

e ficar em tua pele

pelo tempo em que me usa 


Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

*

Itabapoana Pedra Que Voa

dia desses sonhei com alquimia
ciência da transformação
na prova dos nove é alegria
o coração da pedra vira pássaro
e voa para outra dimensão

* 

bashô 
aqui um torquato
re-encarnou
todo viagem de volta
transpoema
que o vento não levou

*

era uma vez um mangue 

e por onde andará Macunaíma?

na sua carne no seu sangue

na medula no seu osso

será que ainda existe

algum vestígio de Macunaíma

na veia do seu pescoço?

          

Artur Gomes
Por onde andará Macunaíma?

*

Aqui nessa pedra

Alguém sentou

Para olhar o mar

 

O mar não parou pra ser olhado

Foi mar para tudo enquanto é lado

 

                           Paulo Leminski

Poema do aviso final

*

 É preciso que haja alguma coisa

alimentando meu povo

uma vontade

uma certeza

uma qualquer esperança.

É preciso que alguma coisa

atraia a vida

ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
e abrirá caminhos.

É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.

                               Torquato Neto

*

Poética 55

 

aqui nesse Puerto Viejo

te beijo em tudo que vejo

teus olhos me vem como feixes

teus olhos fachos de luz

faróis – no desejo concreto

sinais – nesse deserto de gente

secreto em tudo que sinto

sinto muito – e também sente

 

           EuGênio Mallarmè 

*

Artur Gomes e Federika Pagu
  num lance de dados em Cabo Frio-RJ
*

 o acaso

 é um lance de dados

que por acaso

a gente lança

sem mesmo saber

se alcança

o número que se quer

 

                   Irina Serafina

*

vendavais

e ventanias

sempre sopram

brisas boas

nos varais de poesia

 

Federika Lispector 

*

ouvi de um poeta

nesta última madrugada

na certa

com certeza

ele brigou com a namorada

 

                Lady Gumes

 balburdiar eis o verbo

ver pra crer

:

               difícil de falar

ótimo de fazer

 

amor

balbúrdia gozosa

jorrando poesia

enquanto goza

 

fazer balbúrdia

jogo de cartas

sem  baralho

:

dá prazer

                                 mas dá trabalho  


                                      Artur Gomes

In Itabapoana Pedra Pássaro Poema

- Litteralux - 2025

*

 Delicadeza

para Sofia Brito

Bebo teus olhos atlânticos
e tua voz portuguesa
como quem bebe no Tejo
saudades de Lisboa

caminho com os teus passos
em direção ao poema do desassossego
Florbela Espanca Alberto Caieiro Fernando Pessoa

*

O poeta é um fingidor

chove aqui dentro
mais do que lá fora
eu tenho pressa
de olhar teus olhos
nesse mar de angra
o pau brasil sangra

enquanto isso
ela passeia no Egito
entre templos sagrados
dessas múmias quânticas

me perdoa
o poeta é um fingidor
mas eu não sou Fernando Pessoa


Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

Litteralux - 2023

*

as musas de Ignáci

      a Ignácio de Loyola Brandão

 

a mesma língua fala

quando deitamos palavras duras

a vida crua sobre o corpo do texto

e do teu poema

 

partilhamos a busca do mesmo céu

de línguas e dentes em viva dança

não mais de veia bailarina

 

querendo escrever tanto a um só tempo

sobrepomos ao risco da Morte nossos textos

 

pacto de carícias entre fonemas

sons dançantes saem além da boca

 sedução de risos no imaginário

 do menino que admirava a brancura da pele da Primeira Musa

e matava os anões com as palavras

creme de champignons envenenados

colhidas na floresta de outros tempos

 

risos emoldurados em boca e janelas

lá pelas terras de Araraquara

doze anos antes do nascimento da estrela mágica

do beijo que não vem da boca

 

lá onde eu poderia ter escrito o meu primeiro poema

cantando língua e beijo

ao vento dos ventiladores

* 

"os amores de Edgar Allan Poe"

 

Valéry amava Mallarmé que amava Baudelaire

que amava Allan Poe que amava Virginia

a dos cabelos negros como o corvo

 

Valéry morreu depois de ter projetado o "Anjo"

sua última inspiração poética

Mallarmé ainda procura "O Livro essencial"

quando encontrou a Morte

Baudelaire sofreu uma longa agonia

antes de morrer e ser enterrado

no cemitério de Montparnasse em Paris

e Allan Poe casou-se com Virginia

que morreu aos 25 anos

 

Cristiane Grando

*

cada corpo é sua própria guilhotina

              

não bastam baterem suas membranas

na  caixa craniana e arderem

seus ramos carnais

entre a multidão de sal e fúria

os decapitados da vida

pensam como estão fodidos

nesse labirinto com tentáculos de polvo

fodidos na mutilação do sol feito

de memória e esquecimento

a fome circunda por fora com 77 patas  

os decapitados da vida habitam

o íntimo calcário dos dias

com seus fêmures de relâmpagos

com suas línguas que cavalgam

a paisagem cubista de outras peles

cada corpo sustenta o seu lodo

cada corpo partilha o pus

o pão esmigalhado na brutal realidade

cada corpo é sua própria guilhotina anoréxica

são como cachorros nômades

sem nenhuma primavera em seus órgãos  

os decapitados da vida

acolhem os reflexos

guardados nas águas mornas

nos olhos que são cabaças

dispersas na margem voraz do mundo

o amanhecer para eles é uma ferida

com sete peles de serpente 

em torno do veneno e clamor

a religião dos calos é florescer e doer

é preciso queimar até o fim

no sanguíneo gesto

a frágil anatomia do horizonte

 

Carlos Orfeu

*

Tudo rima na mente

 

Entrementes, sorriu de modo muito contente para me dizer suavemente que as flores sentem o que a gente sente.

 

De repente, disse-me que elas começam a morrer como todo ser vivente, assim que nasce a semente que vai florescer.

 

Foi isso que, num ato envolvente de afetividade, compenetrado  e silente, ouvi de você, antes de morreres novamente.

*

 

Outrora, o amor

 

Naquela época,

os dias caíam em barras,

com recheio de nozes e avelãs.

 

As tardes eram de baunilha,

seu sabor preferido.

 

E as iluminadas noites

traziam confeitos coloridos

dos amores que deliam

 

feito sonhos no céu

da boca... 


A violação das Escrituras

 

Ao ler de bom grado os textos sagrados, rejuvenesço em cada trecho a ideia de Deus que há em mim, tirando-lhe o trono, raspando-lhe as barbas embranquecidas e arrancando-lhe toda a veste mortal chinfrim.

Ao reler as escrituras violadas, submeto-me à vontade deste Deus destronado e rejuvenescido mesmo assim, porque ela é infinitamente boa, soberanamente justa; enfim, porque ela é majestosamente pura. 

Mesmo que para alguns Ele não exista, é esta a imagem de Deus que guardo bem dentro de mim, sem ser de todo Sua imagem e semelhança, alterando os mesmos ditos sagrados que já foram violados por mim.

 

Joilson Bessa

Alphaville, 2 de maio de 2025.

Alphaville, 3 de maio de 2025.

Santa Clara, 4 de maio de 2025.

*

Espelhos

 

ser o corpo espelhado

ser a traição do reflexo

: o registro pretérito na câmara escura do olho

: a imagem futura no milagre do espelho

: o silêncio

o não dito

 

do vítreo ao visgo

as aparências se avizinham

o que é o céu senão veios espelhados

do pensar

o que é o chão senão o crânio estilhaçado

depois da queda

 

Wanda Monteiro

Para  a exposição Borges – labirintos da arte 

*

 I

 

E pensar que somos transitórios

um frágil equilíbrio de vida

líquida e efêmera

sobre a linha d´água

fluindo no tempo

finito em nós

*

y pensar que somos transitórios

um frágil equilíbrio de la vida

líquido y efímero

sobre línea de

agua

fluyendo em el tempo

finito em nosostros 

 

Wanda Monteiro

Do livro Aquatempo

Patuá - 2020

*

caverna

 

me tranquei  na caverna de platão

pra enfrentar meus próprios males

não vi primata nem zapata nem dragão

nem dragão

ouvi  o canto das sereias pelos bares

chamei pra briga o capeta de facão

senti o aço perfurando a carne mole

gritei bem alto um tremendo palavrão

chamei são jorge pra ajudar o filho pobre

daqui ninguém sai vivo nem com reza ou um milhão

um dia até o tolo acaba que descobre

perdi o medo de espelho e solidão

só levo a vida com a pele que me cobre

 

Ademir Assunção

Do livro Risca Faca

Selo Demônio Negro – 2021

*


pelo dito ou não dito  não há nada em salvação. mudam o tempo, as derrotas e as glórias, mas ninguém sai vivo desta história, é esperar para ver. é rezar para crer noutra dimensão onde, talvez, não haja ratos no porão.

 

Zhô Bertholini

Do livro Sol Postiço – 2021

*

O adejo dos golfinhos,

o nado da gaivota

 

é bonito de ver

como num passo improvável

o mar trocou de lugar com o céu:

a gaivota flutuante, o golfinho saltador

e o céu não acaba nunca

 

acrobacias e encontros

que tem como impulso

o vento, o ar passadiço

e o mar não acaba nunca

*

Love song

quando você me aperta o coração
cortando da gaivota
o silêncio
da solidão, o frio
aprendo aos poucos os acordes de "La Vie em Rose"
te dou metade d palavra amor
e espero do caminho,
a outra metade

 

Natália Agra

Do livro De repente a chuva 

Corsário Satã – 2017

*

MAR ABERTO

 

Naquele dia

em  que você me puxou

pelo braço

com força

para cima

eu já não respirava.

 

Michaela v. Schmaedel

Do livro Coração Cansado

Penalux – 2020

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Poesia Ali Na Mesa

Jura secreta 34 por que te amo e amor não tem pele nome ou sobrenome não adianta chamar que ele não vem quando se quer porque tem seus própr...