sábado, 7 de junho de 2025

Poesia Ali Na Mesa

CarNAvalha Gumes

 

Escrito nos anos de 1990 este poema hoje no Brasil  é atualíssimo visto esse atual congresso da desordem democrática que o país em hoje. O que será que fizemos nos verões passados para chegarmos a essa situação?

 

neste país de fogo & palavra

se falta lenha na fornalha

uma mordaz língua não falha

cospe grosso na panela

           da imperial tropicanalha

 

não me metam nesses planos

verdes/amarelos

meus dentes vãos  a(r)mados

nem foices nem martelos

meus dentes encarnados

alvos brancos belos

          já estão desenganados

             desta sopa de farelos

 

Artur Gomes

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Balbúrdia PoÉtica 10

Dia 12 de julho

Das 14 às 19h

Casa da Palavra – Santo André-SP

Blog atualizado com poemas de Julio Mendonça e Simone Bacelar

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Poeminha escroto

 

Querem que eu escreva fofinho,

tipo card do Pinterest,

com frases lavadas a lavanda

e uma ilustração de bicicleta encostada num muro cor-de-sonho.

 

Mas minha mão não sabe desenhar arco-íris.

Só traça cicatriz.

Meu texto nasce do porão das palavras,

onde os verbos fumam, e os adjetivos bebem até cair.

 

Vocês pedem ternura?

Ternura é o caralho.

A vida me deu calos, não rendas.

Me deu as vísceras do dia, não sua casca vitrificada.

 

Minha escrita tem cheiro de quarto trancado,

onde ninguém abre a janela há semanas.

 

Ela se senta à mesa com a loucura,

bebe café com a desesperança,

e depois transa com a insônia até o sol nascer torto.

 

Não uso diminutivos,

não suavizo a brutalidade com emojis.

Meu ponto final não é convite.

É sentença.

 

Querem poesia que abrace?

A minha morde.

Querem escrita que seja colo?

A minha é porta batendo na cara.

Passe longe, você que tem medo de se cortar.

 

Meus versos são lascas de vidro enfiadas no pão.

E se sangrar a boca ao morder,

é porque finalmente estão lendo com o corpo.

 

Não há manhãs azuis aqui,

nem "gratidão" escrita com letra de professora.

Aqui é tudo preto, denso, encardido,

feito pulmão de velho operário.

Querem esperança?

Vão pedir pra Deus.

A mim, só resta o gosto do silêncio cuspido,

a palavra que arde na garganta,

o mundo como ele é: feio, sujo, real.

 

E se isso não é poesia,

então me desculpem!

A bala não pegou na testa.

 

Simone Bacelar

06/2025

 *



Carne ao molho madeira

 

Vem ao vento, nos diz,

Lá na Floresta Amazônica

Derrubam-se árvores,

Caem arvoredos,

A Floresta sangra,

Definha, pede socorro.

 

A cada filha-mãe verde morta,

A cada filha-mãe verde tombada,

A cada filha-mãe verde derrubada,

A cada filha-mãe verde que se corta.

 

Vem ao vento, nos diz,

Lá na Floresta Amazônica

Plantam-se pés de gado.

Sobem os lucros,

Polpudas contas infladas de verdes notas.

 

A cada mãe-filha verde morta, morremos também.

A cada mãe-filha verde tombada, tombamos também.

A cada mãe-filha verde derrubada, derrubados somos.

A cada mãe-filha verde cortada, cortados somos também.

 

Vem ao vento, nos diz,

Ao prato nossa fome é saciada,

Somos servidos por generosas porções,

Carne, carne ao molho madeira,

Madeira da nossa mãe morta ao chão.

*

A Alma da Floresta

 

Chora Catarina e suas Araucárias

Ao ver ao chão sua filha em agonia.

Foram tantas e, tantas e, tantas e, tantas e...

Tantas centenas de anos.

Pobre filha Imbuia do destino certeiro:

Certa da cerca ou como lenha a queimar.

Fino móvel dentro do imóvel

Ao rico, ao opulento o seu lucro não abateu.

Chora Catarina sua filha morta ao chão.

 

Sapopemas tamborilam na Amazônia

Notícias cinzentas oriundas das cinzas.

A floresta a queimar, a arder, a clamar...

Samaúma a árvore da vida lá do alto,

Esta escada do céu sofre

Com a vista enevoada

Pela fumaça de suas irmãs a arderem.

Seu caule ruidoso um grito de desespero,

Um brado a implorar:

Salvem a alma da floresta.

 

Milenar anciã emerge dos igapós.

Cuieira vem compartilhar

A sabedoria dos milênios.

Cuieira vem ensinar ao branco homem

A verdadeira força da floresta,

A verdadeira alma da floresta. 

 

-      Paulino, Alexandre Morais. Poema: “A Alma da Floresta”, pag.27, Antologia Geopolítica Ambiental Chorando Pela Natureza. Iancoski, Jéssica (Org.). Curitiba, Editora Eu-I, 2021.

* 

Quatro Haicais)

 

Sobre as folhas secas

Desse eterno renascer

Repousa este orvalho.

 

Via na camélia

Belo mimo de princesa

A áurea lei via

 

Terra minha mãe

Choras em gotas de orvalho

As folhas ao vento

 

Entrei na farmácia

Desesperado pedi

Para alma analgésico

-      Conjunto de haicais selecionado pelo 1º Concurso Literário Haicai-Brasil organizado pela Pangeia Editora em 2020.

*

-      Paulino, Alexandre Morais. “Carne ao Molho Madeira”. 40 Poetas em SP. página 61, TORRES, Mariana; MENDES, Cacá; TOBINAGA, Edson (ORGs). Editora Patuá, 2019;

Edição online da Revista Acrobata, editor: Demetrios Galvão, 

-      <https://revistaacrobata.com.br/demetrios/poesia/3-poemas-de-alexandre-morais-paulino/>;

-      Participou do projeto Poetas Contemporâneos do portal Nova Contagem (MG) em 2021, curadoria do poeta e jornalista Lecy Sousa;

-      Participou 112º edição do projeto Palavras Revoltas VI | Quinta Maldita, idealizado e dirigido pelo professor, músico e escritor Demétrio Panarotto de Santa Catarina, curadoria da edição do poeta Paulino Junir também de Santa Catarina.

 *


Vestido fino

 

Tecelagem

 tece cela cola

 tece agem

 

 aranha teia de fios

 linha, trança a valsa

a canção das máquinas

 passo a passo um fino traço

 rompe a cortina à janela

 

cópia, magia, inteligência

operária indo e vindo

tecido grosso e fino

estopa, toalha e lençol

algodão, cetim e linho

 

branco, preto e colorido

 corda, corão e linha

amarra e desamarra a vida

rotina costura casa e trabalho

menina, moça e mulher

 trança, transa e tece...

 

Menina espeta o dedo

                                                    adormece

 

Um dia

na caldeira entre os panos

 faz o ninho em silêncio

 

revive a memória, tinge a história, corta em retalhos

 

Putz grilo!

É outro o enredo...

 ninguém viu,

ninguém sabe... o remendo

 

Resíduos Editora e Gráfica Print Express, 2015

*

seio da terra

 

somos um único corpo

corpo do corpo

corpo pede corpo

corpo deseja corpo

 corpo acolhe o corpo

 corpo entrelaça o corpo

 corpo alimenta corpo

 corpo deita no corpo

corpo permeia o corpo

corpo gera corpo

 corpo torna corpo

 

 beija

deseja

 quer

 deita

 come

 permeia

 encontra

 enlaça

gera

 germina

 

 corpo gera corpo

corpo germina corpo

corpo no corpo

corpo ressurge do corpo

corpo é a história viva

 no corpo do outro

do próprio corpo

 no seio da terra

 

 Resíduos Editora e Gráfica Print Express, 2015

*

As águas ainda fiam

 

as águas ainda fiam

em versos inversos

 

o rio das voltas

 revolta-se

 

a não-volta

 o corte

 

deitado em linha reta

 

o rio faz o curso

 ora na costela da terra

ora na cjeia dos olhos

 

lágrimas bebem

 no intervalo

o amargo  indevido do caldo

 

braços lanceados

mergulham à memória

do dentro raiz

canal de lágrimas

ao pé do asfalto

 chorões

 

Opará e Tamanduatei o desdorar das águas. Edições Fabrincando ideias para Alpharrabio, 2024

*

Licença

 

 o rio vai passar

 chora a cheia ribeira

a queixar os maus-tratos

em leito sangue

 

fome abandono

 entalhada há séculos

fia a nua costela

 a deflagrar as carnes

 

ferida das queimas

 (não) esquecida da gente

 lambe as cicatrizes

as margens de si

 

o vento das tardes

enfurecido sussurra

 rasgar a história

 e ouvir o silêncio

 

Opará e Tamanduatei o desdorar das águas. Edições Fabrincando ideias para Alpharrabio, 2024

*

FRUIÇÃO

 

 tateio os fios  pensamentos

adormeço sem dormir

na nudez cega do dentro

 tarda a palavra         bem ali

 

inscrita nos subterrâneos

corre o percurso rio

longos atalhos inteiros

 choram gotas de meus eus

 

afluentes em linhas curvas

 escrituras descontinuas

 faço aqui minha ressalva

Esperar a hora que flua.

 

Manuscritos Coletivos 2 (Antologia). Joinville: Manuscritos. Editora, 2021

*

A voz não cabe na boca

 

 voz

voz

voz

a voz não cabe na boca

(não cabe na boca)

                                           corre o mundo

corta a palavra

                                        

                                    ultrapassa a língua

sinal de onda

                                     som e silêncio prorrogação

                               coisa viva

partida

                                     contrapartida

 respiração

                                  pausa

                      duração

     atravessa o meu eu

                                    inteira

                                    água

                                    pedra

                                    cascalho

 desprende-se do corpo     e não morre ressoa em ecos reminiscentes

ressoa em ecos reminiscentes

 ecos reminiscentes

reminiscentes

miniscente

sente

sente

sente

sente

 reminiscente

sente

voz

 

Manuscritos Coletivos 2 (Antologia). Joinville: Manuscritos. Editora, 2021

*

estil(h)aços

 

 a nitidez das lembranças

nas carnes dos sonhos

não as escrevo

 revivo-as

nos recortes das linhas

não impressas

 

o dissiar dos ângulos – coleção PerVersas Edições Alpharrabio, 2023

*

customização

 

a tesoura corre

 o tecido esgarçado

 as pernas da calça

 

                                  inscreve o corte

                                  outro molde

                                  a morte não finda

 

veste à vida

 o espaço do entre

 fios enlaçam-se

 

                                   a agulha franze

                       entre a costura e a escrita

                                   a malha narra-vida

 

a máquina rebobina

 reminiscências do ontem

nas pálpebras das páginas

 

                                   o tecido duplo

                                 alinhava os rascunhos

                                 nas lavras e intervalos

 

veste a filha mulher

 flor em vestígios

pelo arremate das mãos

 

o dissiar dos ângulos – coleção PerVersas Edições Alpharrabio, 2023

*

Márcia Plana nasceu em 1975 no ABC paulista. Mora em Mauá. Brinca com letras e sons. Faz da palavra alimento poético e sustento da vida. É filha das águas nordestinas e do interior de São Paulo, provinda dos cantos do mundo. Artista, Escritora, Professora e mestre em Literatura e Crítica Literária. Foi integrante do Grupo de poesia Taba de Corumbê na Cidade de Mauá/SP. Hoje participa do Encontro da Palavra no munícipio de Mauá, do Grupo Sábados PerVersos: a poesia em questão e o Saralpha pelo Centro Cultural Alpharrabio em Santo André, bem como é integrante do manda@letra, aalém de fazer parte da Tenda de Poesia: Prática e Política do Curso de Verão (CESEEP). Publicou: Às margens do Mar (1996), Murmúrios do Mar (2004), Resíduos (2015), Surtos da quarentena: 4 escritores, 40 histórias e 1 história por dia. (2023) Opará e Tamanduateí – o desdobrar das águas (2024) entre publicações em Antologias.

Jura secreta 34

por que te amo
e amor não tem pele
nome ou sobrenome

não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos

mas não tenha medo
pode sangrar pode doer
e ferir fundo
mas é razão de estar no mundo

nem que seja por segundo
por um beijo mesmo breve
por que te amo
no sol no sal no mar na neve

Artur Gomes
poema do livro Juras Secretas
Litteralux – 2018

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                                     1. 

e sigo assim

tecendo tramas

das ramas

desse plantio

tardio

 

volto ao chão

onde jaz

meu umbigo

 

colho o pão

da mão do amigo

 

quanto mais

serenos

mais ando

querendo

menos

*

Odisséia Mínima

ao vencedor

as batalhas

aos campeões

a caminhada

aos fortes

mais nortes

aos frios

os navios

 

nunca se chega

ao fim no fim

 

depois de tudo

a névoa do nada

a lhe lamber

as feridas

 

aos que chegam

restam

as saídas

*

3.

 

tô por aqui

de rima perfumada

de prosa empilhada

de poema piada

 

até a tampa

de hai cai de lado

de soneto desmembrado

de slogan disfarçado

 

super satisfeito

de poeta que não lê

designer que não vê

de tanto eu,

antes de você.

*

4. 

tem poeta de tudo quanto é jeito

 

tem os que esperam ônibus

tem os que compram ônibus

tem os que tomam ônibus

 

e tem este mal-traçado

que por falta de audácia

ou ocasião até

anda na linha

a pé 

* 

5.

 

virgília

 

dormi pound

   sonhei paz

acordei enfim

   pobre de mim

fosse  assim

   uma lasca

de leminski

   já seria demais

6.

volta 

não me taques na cara 

todos teus tiques

não me tocas nem

trincas meu dique

com esses paquetes

quase a pique

por outra

se jurares

não me deixar

à mercê

saibas que tenho                   

outra ítaca

inteira

para você

*

7.

 Verso

 

re

   tomar

      o dia

 

re

   visitar

      a utopia

 

re

   formar

      o nexo

 

re

   fazer

      o sexo

 

re

   presar

      a sangria

 

re

   suscitar

      a alegria

* 

8. 

p(l)anos

 

vislumbrando que viro velho

metade dos amigos mortos

descarto comidos conselhos

escolho caminhos tão tortos

 

mas nem afoito nem cansado

viro o mundo e volto ao berço

rompo essas ruas alentado

cumpro contratos pelo verso

 

talvez a hora de ir em frente  

riscando a linha do exemplo

largando ao tempo o legado

 

singrando o mar do divergente

a folha como vela e templo

a pena feita quilha e arado

*

9

carpe o dia

 

firmarei futuro

   quando mais maduro

 

lerei outro lado

   quando ajuizado

 

mãos ao montepio

   findo o desvario

 

lote ou terreno

   quando mais sereno

 

ser esse estóico

   tão exemplar

 

dedicado a arrancar

   cada espinho

 

das rosas não plantadas

   pelo caminho

*

10. 

somana 

mário era índio preto que tacapeou o tripé de tarsila deixando o aluno oswald brasil no pau nesse capão de capiau 

desterrados no leblon e curtas camadas de copacabana desfiariam décadas para apoucar a fama de apenas uma sopesada semana 

vila ventilava a taba que assobiava com o bento enquanto paliçava os entes entre uma e outra sardinha deglutida na palhoça gourmet 

da janela do futuro o céu dos artistas enfileirava músicospintorespoetasescultores aguardando centenas de semanas para esticar as estacas da vida nessa pobre capoeira na esteira do pé de vento deste centrípeto movimento 

e hoje, sem saída na rua da abolição, o rio deságua no bar piratininga, na esquina perdida da cidade de deus, ateus e racionais trazem o trombone para a intriga encerrada por emicida, fim da semana, a insurgência de um novo dia, o centro agora é a periferia


      Elcio Fonseca

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*

ENTULHOS

tenho tudo guardado

grudados em meu sangue

a cômoda em verniz do meu pai

como seus sapatos lustrados

com cera poliflor

versos antigos, cachos da minha infância

segredos que ninguém ousa saber

papéis rasurados, picados 

com palavras insignificantes

que codificam minha mini existência

precária, confusa e heroica...

eu sou um jazigo em desordem

uma necrópole ambulante

flores murchas,

vermes rastejantes ousam rasgar meu ventre

mas cuspo em suas bocas fétidas

e preservo minha autoria.

....

SEM TÍTULO

O destino levou o lar da minha infância embora.

Crepúsculo de pétalas de rosas

E o alvorecer cinzento se aproxima

O jogo da amarelinha

Os passos largos do meu pai

O perfume ordinário da minha mãe

Vestiu seu vestido de organza branco

foi fazer primeira comunhão

mas a hóstia sangrou  na sua boca

temerosa escondeu-se em labirintos

Depois, entre ventanias e tempestades

calçou seus sapatos esfarrapados

e vestiu seu vestido de bolinhas amarelas

brincou com Sonia, beijou Dona Celedonia

mas sempre morou na casa dos fundos

vivendo no anonimato

morou no jardim da luz

entre florzinhas na mão com seu irmão

tirou um retrato de sua infância

sua mãe, seu pai

acolheram seus cachos

mas sempre catando seus piolhos

Deu um pulo pra outros tempos...

dançou a valsa com príncipes

marejou seu semblante de ilusões

visitou castelos medievais

e namorou Machado de Assis

Mas apaixonada por Dostoievski

casou-se com ele

mas o casamento não durou

ele se matou

desencantada , desmoronou

refugiou-se entre muralhas medievais

mas os príncipes nunca a deixaram em paz

adormeceu profundamente no tempo

e só despertou

nas cavernas do tempo

quando descobriu 

amores da ancestralidade

brincou em céus invisíveis

se enamorou de Nirvana

mas suas saias rasgaram

e ficaram  presas  nas rodas gigantes da vida

saiu ilesa

mas seu corpo ficou emaranhado

nas feridas do tempo

onde as cicatrizes perduram até hoje

sua poesia

inundada no sangue

avermelhou e reluziu

aqui jaz

o juízo final.

...

PONTO G

Uma vulva risonha

e

folhas rasuradas da bíblia  voam para o firmamento

um céu com rubor

molha o útero carente

do corpo sedento

da criação exultante do divino

crianças correm no parque

folhas de outono se despedem

é o calor molhado da genitália feminina

em súplicas

quero mais!

ventre livre

algemas roubadas

saindo do velório

das represálias

gemidos de prazer

se apossam de seres  voláteis

libertos  em grunhidos

que gritam

estou na fase oral

quero chupar!

....

INQUIETAÇÕES

vivo num país de lendas

ah! e esse  esqueleto imundo

inútil, vazio

vem, venha ungir esse demiurgo 

sou puro substrato

sofro de letargias

meus desequilíbrios são o luxo da minha existência

tenho que me destituir pra vadiar

meus dias são nublados como cascavel à espreita

quero trincar meus ossos e moê-los

me entrego a esse furor

adormeço nas cinzas do passado

meu corpo plana

na imundície dos vocábulos vagabundos,

como moribundo.

....

OS RUBORES DE MARIA

 

Sexo é miragem?
não
sexo é voragem
da última voltagem
curto circuito
cócegas na mão é tesão!?
Não
é alergia de Maria que trepa na contramão

....

 

QUANDO EU AMO

Quando eu amo

Desafino

Desalinho

Esqueço a minha Messalina

E bate as Marias do infinito 

Fico dengosa e chorosa

Perco a linha e o pendão da esperança 

Fico Maria vai com as outras

Sou fantoche das ilusões 

Incertezas batem à minha porta

Me transmuto; a sereia vira peixinho minúsculo à mercê dos tubarões.

.....

MOÇA DA OLIVETTI

asdfg asdfg asdfg asdfg asdfg A

As tardes eram dela

daquela moça com cabelos encaracolados que se preparava para mais uma aula

ASDFG ASDFG ASDFG

Caminhos incertos

altivez do caminho escolhido era o afinco e o refinamento

dedos longos mãos levantadas e o elogio dos professores

o estopim do momento

exímia, longilínea

ASDFG ASDFG ASDFG

sonhos e travessias

queria ser Doris Day em comédias românticas

Ana Karenina na pele de Vanessa Redgrave

suas leituras em seu degredo deleitava-se com Dostoiévski comparando seu exílio ao dele pobre pequena de serviços gerais ASDFG ASDFG ASDFG

em prisão serviçal mais um dia de trabalho e o elogio do chefe acabou o expediente bater o cartão ajeitava o cabelo

ASDFG ASDFG ASDFG ............................................................

LIMPIDEZ

A luz do dia reflete uma calmaria

O tapete transborda em beiras

poeiras 

como feiras de restos escondidos

um silêncio ensurdecedor...

Bicicletas voadoras

e os ets voltaram...

A doçura do cotidiano se refaz

Numa atmosfera com turbantes e beduínos 

É a flor de liz

É o gem? Gênese? Gênero? 

Alimentos transgênicos 

Pessoas trans 

Vivemos na transitoriedade 

Obcecados por definições 

Ninguém é de ninguém 

Amanhã seremos cinzas

.......

DECIFRA-ME

Sou feita de aço e de plumas

Ora um voo no espaço

Ora um pé fincado na lama

Metralhadoras e estrelas

Compõem esse cenário

Nua me recomponho

Sou carne exposta

Meu sangue me verticaliza

Meus bicos dos seios vivem endurecidos

Como arestas de um poliedro

Como  esporas que relincham

A raiva e o estrume me apetecem

Pela sua crueza e odores

Mato em mim o que me repugna

Sou o meu avesso

Me apoio em anjos de Botticelli

E na descompostura de Marquês de Sade

E vislumbro sua sabedoria; 

Tudo que é excessivo é  bom

Cuspo  em preconceitos sifilíticos

em bocas fétidas desses desgovernantes

dessa falsa burguesia: 

(delinquências camufladas)

E  de  suas etiquetas – vendem-se.

.....

CASA DE TOLERÂNCIA – RUA DAS FLORES

Maria e Mercedes

Anjos com unhas pintadas

Um mundo de favores e redenção

canteiros de rosas e gardênias

Risos e gargalhadas

bebês com dentes afiados

peitos rosados

Sótão de favores

Ventres expostos

Corações em enxames de abelhas

Sentimentos submersos

marginais da purificação

nadam em águas imundas

um mundo de ardores  e de perdição

 seu corpo é uma oração.


                               Luiza Silva Oliveira 

Balbúrdia PoÉtica 10

Poesia Ali Na Mesa

Dia 12 julho – das 14 às 19h

Casa da Palavra – Praça do Carmo, 171

Santo André-SP

Curadoria: Artur Gomes, César Augusto de Carvalho, Julio Mendonça, Jurema Barreto e Silvia Helena Passareli

 

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Todo dia é dia D

 

santo de casa

não faz milagre

já me dizia Padre Olímpio

lá pelos idos de 1974

dentro da tipografia

depois aprendi com Torquato Neto

que todo dia é dia dela

todo dia é dia d

e então poesia é o que entrego

 ao desafeto

com toda flor do bem querer

 

Artur Gomes

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Sarau Literário

Norte Fluminense

Jardim do Liceu

6 junho – 2025

 

TECIDOS SOBRE A PELE

 

Terra,

antes que alguém morra

escrevo prevendo a morte

arriscando a vida

antes que seja tarde

e que a língua

da minha boca

não cubra mais tua ferida

 

entre/aberto

em teus ofícios

é que meu peito de poeta

sangra ao corte das navalhas

e minha veia mais aberta

é mais um rio que se espalha

 

amada de muitos sonhos

e pouco sexo

deposito a minha boca no teu cio

e uma semente fértil

nos teus seios como um rio

 

o que me dói é ter-te

devorada por estranhos olhos

e deter impulsos por fidelidade

 

ó terra incestuosa

de prazer e gestos

não me prendo ao laço

dos teus comandantes

só me enterro à fundo

nos teus vagabundos

com um prazer de fera

e um punhal de amante

 

minha terra

é de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial que a foice corta

mas cravado em ti

me ponho a luta

mesmo sabendo – o vão

estreito em cada porta

 

Moenda

 

usina

mói a cana

o caldo e o bagaço

usina

mói o braço

a carne o osso

usina

mói o sangue

a fruta e o caroço

tritura suga torce

dos pés até o pescoço

e

do alto da casa grande

os donos do engenho controlam

: o saldo e o lucro

 

Poema do livro Suor & Cio – 1985

Gravado pelo autor no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – 2002

e na antologia pessoal  Pátria A(r)mada 2022

 

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Poesia Ali Na Mesa

CarNAvalha Gumes   Escrito nos anos de 1990 este poema hoje no Brasil  é atualíssimo visto esse atual congresso da desordem democrática que ...