terra de santa cruz
I
ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme
Artur Gomes
poema dos livros Couro Cru & Carne Viva - 1987
e Pátria A(r)mada - 2022
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CarNAvalha Gumes
Escrito nos anos de 1990 este poema hoje no Brasil  é atualíssimo visto esse atual congresso da desordem democrática que o país em hoje. O que será que fizemos nos verões passados para chegarmos a essa situação?
neste país de fogo & palavra
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
           da imperial tropicanalha
não me metam nesses planos
verdes/amarelos
meus dentes vãos  a(r)mados
nem foices nem martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
          já estão desenganados
             desta sopa de farelos
Artur Gomes
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Balbúrdia PoÉtica 10
Dia 12 de julho
Das 14 às 19h
Casa da Palavra – Santo André-SP
Blog atualizado com poemas de Julio Mendonça e Simone Bacelar
Poeminha
escroto 
Querem
que eu escreva fofinho,
tipo card
do Pinterest,
com
frases lavadas a lavanda
e uma
ilustração de bicicleta encostada num muro cor-de-sonho.
Mas minha
mão não sabe desenhar arco-íris.
Só traça
cicatriz.
Meu texto
nasce do porão das palavras,
onde os
verbos fumam, e os adjetivos bebem até cair.
Vocês
pedem ternura?
Ternura é
o caralho.
A vida me
deu calos, não rendas.
Me deu as
vísceras do dia, não sua casca vitrificada.
Minha
escrita tem cheiro de quarto trancado,
onde
ninguém abre a janela há semanas.
Ela se
senta à mesa com a loucura,
bebe café
com a desesperança,
e depois
transa com a insônia até o sol nascer torto.
Não uso
diminutivos,
não
suavizo a brutalidade com emojis.
Meu ponto
final não é convite.
É
sentença.
Querem
poesia que abrace?
A minha
morde.
Querem
escrita que seja colo?
A minha é
porta batendo na cara.
Passe
longe, você que tem medo de se cortar.
Meus
versos são lascas de vidro enfiadas no pão.
E se
sangrar a boca ao morder,
é porque
finalmente estão lendo com o corpo.
Não há
manhãs azuis aqui,
nem
"gratidão" escrita com letra de professora.
Aqui é
tudo preto, denso, encardido,
feito
pulmão de velho operário.
Querem
esperança?
Vão pedir
pra Deus.
A mim, só
resta o gosto do silêncio cuspido,
a palavra
que arde na garganta,
o mundo
como ele é: feio, sujo, real.
E se isso
não é poesia,
então me
desculpem!
A bala
não pegou na testa.
Simone
Bacelar 
06/2025
*
Carne ao molho madeira
Vem ao vento, nos diz,
Lá na Floresta Amazônica
Derrubam-se árvores, 
Caem arvoredos,
A Floresta sangra,
Definha, pede socorro.
A cada filha-mãe verde morta,
A cada filha-mãe verde tombada,
A cada filha-mãe verde derrubada,
A cada filha-mãe verde que se corta.
Vem ao vento, nos diz,
Lá na Floresta Amazônica
Plantam-se pés de gado.
Sobem os lucros,
Polpudas contas infladas de verdes notas.
A cada mãe-filha verde morta, morremos também.
A cada mãe-filha verde tombada, tombamos também.
A cada mãe-filha verde derrubada, derrubados somos.
A cada mãe-filha verde cortada, cortados somos também.
Vem ao vento, nos diz,
Ao prato nossa fome é saciada,
Somos servidos por generosas porções,
Carne, carne ao molho madeira,
Madeira da nossa mãe morta ao chão.
*
A
Alma da Floresta
Chora Catarina e suas Araucárias
Ao ver ao chão sua filha em agonia.
Foram tantas e, tantas e, tantas e, tantas e...
Tantas centenas de anos.
Pobre filha Imbuia do destino certeiro:
Certa da cerca ou como lenha a queimar.
Fino móvel dentro do imóvel
Ao rico, ao opulento o seu lucro não abateu.
Chora Catarina sua filha morta ao chão.
Sapopemas tamborilam na Amazônia
Notícias cinzentas oriundas das cinzas.
A floresta a queimar, a arder, a clamar...
Samaúma a árvore da vida lá do alto,
Esta escada do céu sofre
Com a vista enevoada
Pela fumaça de suas irmãs a arderem.
Seu caule ruidoso um grito de desespero,
Um brado a implorar:
Salvem a alma da floresta.
Milenar anciã emerge dos igapós.
Cuieira vem compartilhar
A sabedoria dos milênios.
Cuieira vem ensinar ao branco homem
A verdadeira força da floresta,
A verdadeira alma da floresta.
-     
Paulino, Alexandre Morais. Poema: “A Alma da
Floresta”, pag.27, Antologia Geopolítica Ambiental Chorando Pela Natureza.
Iancoski, Jéssica (Org.). Curitiba, Editora Eu-I, 2021.
*
Quatro
Haicais) 
Sobre as folhas secas
Desse eterno renascer
Repousa este orvalho.
Via na camélia
Belo mimo de princesa
A áurea lei via
Terra minha mãe
Choras em gotas de orvalho
As folhas ao vento
Entrei na farmácia
Desesperado pedi
Para alma analgésico
*
-     
Conjunto de haicais selecionado pelo 1º Concurso
Literário Haicai-Brasil organizado pela Pangeia Editora em 2020.
*
-      Paulino,
Alexandre Morais. “Carne ao Molho Madeira”. 40 Poetas em SP. página
61, TORRES, Mariana; MENDES, Cacá; TOBINAGA, Edson (ORGs). Editora Patuá, 2019;
Edição
online da Revista Acrobata, editor: Demetrios Galvão, 
-      <https://revistaacrobata.com.br/demetrios/poesia/3-poemas-de-alexandre-morais-paulino/>;
-      Participou
do projeto Poetas Contemporâneos do portal Nova Contagem (MG) em 2021,
curadoria do poeta e jornalista Lecy Sousa;
- Participou 112º edição do projeto Palavras Revoltas VI | Quinta Maldita, idealizado e dirigido pelo professor, músico e escritor Demétrio Panarotto de Santa Catarina, curadoria da edição do poeta Paulino Junir também de Santa Catarina.
*
Vestido fino 
Tecelagem
 tece cela cola
 tece agem
 aranha teia de fios
 linha, trança a valsa 
a canção das máquinas
 passo a passo um fino
traço
 rompe a cortina à
janela 
cópia, magia, inteligência 
operária indo e vindo 
tecido grosso e fino 
estopa, toalha e lençol 
algodão, cetim e linho 
branco, preto e colorido
 corda, corão e linha 
amarra e desamarra a vida 
rotina costura casa e trabalho 
menina, moça e mulher
 trança, transa e
tece... 
Menina espeta o dedo
                                                   
adormece 
Um dia 
na caldeira entre os panos
 faz o ninho em silêncio
revive a memória, tinge a história, corta em retalhos 
Putz grilo! 
É outro o enredo...
 ninguém viu, 
ninguém sabe... o remendo 
Resíduos Editora e Gráfica Print Express, 2015
*
seio da
terra 
somos um
único corpo 
corpo do
corpo 
corpo pede
corpo 
corpo
deseja corpo
 corpo acolhe o corpo
 corpo entrelaça o corpo
 corpo alimenta corpo
 corpo deita no corpo 
corpo
permeia o corpo 
corpo
gera corpo
 corpo torna corpo
 beija 
deseja
 quer
 deita
 come
 permeia
 encontra
 enlaça 
gera
 germina
 corpo gera corpo 
corpo
germina corpo 
corpo no
corpo 
corpo
ressurge do corpo 
corpo é a
história viva
 no corpo do outro 
do
próprio corpo
 no seio da terra
 Resíduos Editora e Gráfica Print Express, 2015
*
As águas
ainda fiam 
as águas
ainda fiam 
em versos
inversos 
o rio das
voltas
 revolta-se 
a
não-volta
 o corte 
deitado
em linha reta 
o rio faz
o curso
 ora na costela da terra 
ora na
cjeia dos olhos 
lágrimas
bebem
 no intervalo 
o amargo  indevido do caldo 
braços
lanceados 
mergulham
à memória 
do dentro
raiz 
canal de
lágrimas 
ao pé do
asfalto
 chorões
Opará e
Tamanduatei o desdorar das águas. Edições Fabrincando ideias para Alpharrabio,
2024
*
Licença
 o rio vai passar
 chora a cheia ribeira 
a queixar
os maus-tratos 
em leito
sangue 
fome
abandono
 entalhada há séculos 
fia a nua
costela
 a deflagrar as carnes 
ferida
das queimas
 (não) esquecida da gente
 lambe as cicatrizes 
as
margens de si 
o vento
das tardes 
enfurecido
sussurra
 rasgar a história
 e ouvir o silêncio 
Opará e
Tamanduatei o desdorar das águas. Edições Fabrincando ideias para Alpharrabio,
2024
*
FRUIÇÃO
 tateio os fios  pensamentos 
adormeço
sem dormir 
na nudez
cega do dentro
 tarda a palavra         bem ali 
inscrita
nos subterrâneos 
corre o
percurso rio 
longos
atalhos inteiros
 choram gotas de meus eus 
afluentes
em linhas curvas
 escrituras descontinuas
 faço aqui minha ressalva 
Esperar a
hora que flua. 
Manuscritos
Coletivos 2 (Antologia). Joinville: Manuscritos. Editora, 2021
*
A voz não cabe na boca
 voz 
voz 
voz 
a voz não cabe na boca 
(não cabe na boca) 
                                           corre o mundo 
corta a palavra
                                        
                                    ultrapassa
a língua 
sinal de onda 
                                     som e
silêncio prorrogação
                         
     coisa viva 
partida 
                                     contrapartida
 respiração 
                                  pausa 
                      duração
     atravessa o meu eu
                                    inteira 
                                    água 
                                    pedra 
                                    cascalho
 desprende-se do corpo     e não morre ressoa em ecos reminiscentes 
ressoa em ecos reminiscentes
 ecos reminiscentes 
reminiscentes 
miniscente 
sente 
sente 
sente 
sente
 reminiscente 
sente 
voz 
Manuscritos Coletivos 2 (Antologia). Joinville:
Manuscritos. Editora, 2021
*
estil(h)aços
 a nitidez das
lembranças 
nas carnes dos sonhos 
não as escrevo
 revivo-as 
nos recortes das linhas 
não impressas 
o dissiar dos ângulos – coleção PerVersas Edições
Alpharrabio, 2023
*
customização
a tesoura corre
 o tecido esgarçado
 as pernas da calça
                                  inscreve o
corte 
                                  outro molde 
                                  a morte não
finda 
veste à vida
 o espaço do entre
 fios enlaçam-se 
                                   a agulha
franze 
                       entre
a costura e a escrita
                                   a malha
narra-vida 
a máquina rebobina
 reminiscências do ontem
nas pálpebras das páginas
                                   o tecido
duplo 
                                 alinhava os
rascunhos
                                 nas lavras e intervalos 
veste a filha mulher
 flor em vestígios 
pelo arremate das mãos 
o dissiar dos ângulos – coleção PerVersas Edições
Alpharrabio, 2023
*
Márcia
Plana nasceu em 1975 no ABC paulista. Mora em Mauá. Brinca com
letras e sons. Faz da palavra alimento poético e sustento da vida. É filha das
águas nordestinas e do interior de São Paulo, provinda dos cantos do mundo.
Artista, Escritora, Professora e mestre em Literatura e Crítica Literária. Foi
integrante do Grupo de poesia Taba de Corumbê na Cidade de Mauá/SP. Hoje
participa do Encontro da Palavra no munícipio de Mauá, do Grupo Sábados
PerVersos: a poesia em questão e o Saralpha pelo Centro Cultural Alpharrabio em
Santo André, bem como é integrante do manda@letra, aalém de fazer parte da
Tenda de Poesia: Prática e Política do Curso de Verão (CESEEP). Publicou: Às
margens do Mar (1996), Murmúrios do Mar (2004), Resíduos (2015), Surtos da
quarentena: 4 escritores, 40 histórias e 1 história por dia. (2023) Opará e
Tamanduateí – o desdobrar das águas (2024) entre publicações em Antologias.
Jura secreta 34
por que te amo
e amor não tem pele
nome ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos
mas não tenha medo
pode sangrar pode doer
e ferir fundo
mas é razão de estar no mundo
nem que seja por segundo
por um beijo mesmo breve
por que te amo
no sol no sal no mar na neve
Artur Gomes
poema do livro Juras Secretas
Litteralux – 2018
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1.
e sigo assim
tecendo tramas
das ramas
desse plantio
tardio
volto ao chão
onde jaz
meu umbigo
colho o pão
da mão do amigo
quanto mais
serenos
mais ando
querendo
menos
*
Odisséia Mínima
ao vencedor
as batalhas
aos campeões
a caminhada
aos fortes
mais nortes
aos frios
os navios
nunca se chega
ao fim no fim
depois de tudo
a névoa do nada
a lhe lamber
as feridas
aos que chegam
restam
as saídas
*
3.
tô por aqui
de rima perfumada
de prosa empilhada
de poema piada
até a tampa
de hai cai de lado
de soneto desmembrado
de slogan disfarçado
super satisfeito
de poeta que não lê
designer que não vê
de tanto eu,
antes de você.
*
4.
tem poeta de tudo quanto é jeito
tem os que esperam ônibus
tem os que compram ônibus
tem os que tomam ônibus
e tem este mal-traçado
que por falta de audácia
ou ocasião até
anda na linha
a pé
*
5.
virgília
dormi pound
   sonhei paz
acordei enfim
   pobre de mim
fosse  assim
   uma lasca
de leminski
   já seria demais
*
6.
volta
não me taques na cara 
todos teus tiques
não me tocas nem
trincas meu dique
com esses paquetes
quase a pique
por outra
se jurares
não me deixar
à mercê
saibas que tenho                   
outra ítaca
inteira
para você
*
7.
Verso
re
   tomar
      o dia
re
   visitar
      a utopia
re
   formar
      o nexo
re
   fazer
      o sexo
re
   presar
      a sangria
re
   suscitar
      a alegria
*
8.
p(l)anos
vislumbrando que viro velho
metade dos amigos mortos
descarto comidos conselhos
escolho caminhos tão tortos
mas nem afoito nem cansado
viro o mundo e volto ao berço
rompo essas ruas alentado
cumpro contratos pelo verso
talvez a hora de ir em frente  
riscando a linha do exemplo
largando ao tempo o legado
singrando o mar do divergente
a folha como vela e templo
a pena feita quilha e arado
*
9
carpe o dia
firmarei futuro
   quando mais maduro
lerei outro lado
   quando ajuizado
mãos ao montepio
   findo o desvario
lote ou terreno
   quando mais sereno
ser esse estóico
   tão exemplar
dedicado a arrancar
   cada espinho
das rosas não plantadas
   pelo caminho
*
10.
somana
mário era índio preto que tacapeou o tripé de tarsila deixando o aluno oswald brasil no pau nesse capão de capiau
desterrados no leblon e curtas camadas de copacabana desfiariam décadas para apoucar a fama de apenas uma sopesada semana
vila ventilava a taba que assobiava com o bento enquanto paliçava os entes entre uma e outra sardinha deglutida na palhoça gourmet
da janela do futuro o céu dos artistas enfileirava músicospintorespoetasescultores aguardando centenas de semanas para esticar as estacas da vida nessa pobre capoeira na esteira do pé de vento deste centrípeto movimento
e hoje, sem saída na rua da abolição, o rio deságua no bar piratininga, na esquina perdida da cidade de deus, ateus e racionais trazem o trombone para a intriga encerrada por emicida, fim da semana, a insurgência de um novo dia, o centro agora é a periferia
      Elcio Fonseca
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https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
*
ENTULHOS
tenho tudo guardado
grudados em meu sangue
a cômoda em verniz do meu pai
como seus sapatos lustrados
com cera poliflor
versos antigos, cachos da minha
infância
segredos que ninguém ousa saber
papéis rasurados, picados 
com palavras insignificantes
que codificam minha mini existência
precária, confusa e heroica...
eu sou um jazigo em desordem
uma necrópole ambulante
flores murchas,
vermes rastejantes ousam rasgar meu
ventre
mas cuspo em suas bocas fétidas
e preservo minha autoria.
....
SEM TÍTULO
O destino levou o
lar da minha infância embora.
Crepúsculo de
pétalas de rosas
E o alvorecer
cinzento se aproxima
O jogo da amarelinha
Os passos largos do
meu pai
O perfume ordinário
da minha mãe
Vestiu seu vestido
de organza branco
foi fazer primeira
comunhão
mas a hóstia
sangrou  na sua boca
temerosa escondeu-se
em labirintos
Depois, entre
ventanias e tempestades
calçou seus sapatos
esfarrapados
e vestiu seu vestido
de bolinhas amarelas
brincou com Sonia,
beijou Dona Celedonia
mas sempre morou na
casa dos fundos
vivendo no anonimato
morou no jardim da
luz
entre florzinhas na
mão com seu irmão
tirou um retrato de
sua infância
sua mãe, seu pai
acolheram seus
cachos
mas sempre catando
seus piolhos
Deu um pulo pra
outros tempos...
dançou a valsa com
príncipes
marejou seu
semblante de ilusões
visitou castelos
medievais
e namorou Machado de
Assis
Mas apaixonada por
Dostoievski
casou-se com ele
mas o casamento não
durou
ele se matou
desencantada ,
desmoronou
refugiou-se entre
muralhas medievais
mas os príncipes
nunca a deixaram em paz
adormeceu
profundamente no tempo
e só despertou
nas cavernas do
tempo
quando descobriu 
amores da
ancestralidade
brincou em céus
invisíveis
se enamorou de
Nirvana
mas suas saias
rasgaram
e ficaram 
presas  nas rodas gigantes da vida
saiu ilesa
mas seu corpo ficou
emaranhado
nas feridas do tempo
onde as cicatrizes
perduram até hoje
sua poesia
inundada no sangue
avermelhou e reluziu
aqui jaz
o juízo final.
...
PONTO G
Uma vulva
risonha
e
folhas
rasuradas da bíblia  voam para o firmamento
um céu
com rubor
molha
o útero carente
do
corpo sedento
da
criação exultante do divino
crianças
correm no parque
folhas
de outono se despedem
é o
calor molhado da genitália feminina
em
súplicas
quero
mais!
ventre
livre
algemas
roubadas
saindo
do velório
das
represálias
gemidos
de prazer
se
apossam de seres  voláteis
libertos 
em grunhidos
que
gritam
estou
na fase oral
quero
chupar!
....
INQUIETAÇÕES
vivo num país de lendas
ah! e esse  esqueleto imundo
inútil, vazio
vem, venha ungir esse demiurgo 
sou puro substrato
sofro de letargias
meus desequilíbrios são o luxo da minha existência
tenho que me destituir pra vadiar
meus dias são nublados como cascavel à espreita
quero trincar meus ossos e moê-los
me entrego a esse furor
adormeço nas cinzas do passado
meu corpo plana
na imundície dos vocábulos vagabundos,
como moribundo.
....
OS RUBORES DE MARIA
Sexo é miragem?
não
sexo é voragem
da última voltagem
curto circuito
cócegas na mão é tesão!?
Não
é alergia de Maria que trepa na contramão
....
QUANDO EU AMO
Quando eu amo
Desafino
Desalinho
Esqueço a minha Messalina
E bate as Marias do
infinito 
Fico dengosa e
chorosa
Perco a linha e o
pendão da esperança 
Fico Maria vai com
as outras
Sou fantoche das
ilusões 
Incertezas batem à
minha porta
Me transmuto; a
sereia vira peixinho minúsculo à mercê dos tubarões.
.....
MOÇA DA OLIVETTI
asdfg asdfg asdfg
asdfg asdfg A
As tardes eram dela 
daquela moça com
cabelos encaracolados que se preparava para mais uma aula 
ASDFG ASDFG ASDFG 
Caminhos incertos 
altivez do caminho
escolhido era o afinco e o refinamento 
dedos longos mãos
levantadas e o elogio dos professores 
o estopim do momento
exímia, longilínea 
ASDFG ASDFG ASDFG 
sonhos e travessias 
queria ser Doris Day
em comédias românticas 
Ana Karenina na pele
de Vanessa Redgrave 
suas leituras em seu
degredo deleitava-se com Dostoiévski comparando seu exílio ao dele pobre
pequena de serviços gerais ASDFG ASDFG ASDFG 
em prisão serviçal
mais um dia de trabalho e o elogio do chefe acabou o expediente bater o cartão
ajeitava o cabelo 
ASDFG ASDFG ASDFG
............................................................
LIMPIDEZ
A luz do dia reflete uma calmaria
O tapete transborda em beiras
poeiras 
como feiras de restos escondidos
um silêncio ensurdecedor...
Bicicletas voadoras
e os ets voltaram...
A doçura do cotidiano se refaz
Numa atmosfera com turbantes e beduínos 
É a flor de liz
É o gem? Gênese? Gênero? 
Alimentos transgênicos 
Pessoas trans 
Vivemos na transitoriedade 
Obcecados por definições 
Ninguém é de ninguém 
Amanhã seremos cinzas
.......
DECIFRA-ME
Sou feita de aço e
de plumas
Ora um voo no espaço
Ora um pé fincado na
lama
Metralhadoras e
estrelas
Compõem esse cenário
Nua me recomponho
Sou carne exposta
Meu sangue me
verticaliza
Meus bicos dos seios
vivem endurecidos
Como arestas de um
poliedro
Como  esporas
que relincham
A raiva e o estrume
me apetecem
Pela sua crueza e
odores
Mato em mim o que me
repugna
Sou o meu avesso
Me apoio em anjos de
Botticelli
E na descompostura
de Marquês de Sade
E vislumbro sua
sabedoria; 
Tudo que é excessivo
é  bom
Cuspo  em
preconceitos sifilíticos
em bocas fétidas
desses desgovernantes
dessa falsa
burguesia: 
(delinquências
camufladas)
E  de 
suas etiquetas – vendem-se.
.....
CASA DE
TOLERÂNCIA – RUA DAS FLORES
Maria e Mercedes
Anjos com unhas pintadas
Um mundo de favores e redenção
canteiros de rosas e gardênias
Risos e gargalhadas
bebês com dentes afiados
peitos rosados
Sótão de favores
Ventres expostos
Corações em enxames de abelhas
Sentimentos submersos
marginais da purificação
nadam em águas imundas
um mundo de ardores  e de perdição
 seu corpo é uma oração.
                               Luiza Silva
Oliveira 
Balbúrdia PoÉtica 10
Poesia Ali Na Mesa
Dia 12 julho – das 14 às 19h
Casa da Palavra – Praça do Carmo, 171
Santo André-SP
Curadoria: Artur Gomes, César Augusto de Carvalho, Julio Mendonça, Jurema Barreto e Silvia Helena Passareli
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Todo dia é dia D
santo de casa
não faz milagre
já me dizia Padre Olímpio
lá pelos idos de 1974
dentro da tipografia
depois aprendi com Torquato Neto
que todo dia é dia dela
todo dia é dia d
e então poesia é o que entrego
 ao desafeto
com toda flor do bem querer
Artur Gomes
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https://fulinaimagens.blogspot.com/
Sarau Literário
Norte Fluminense 
Jardim do Liceu
6 junho – 2025
TECIDOS SOBRE A PELE
Terra,
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua
da minha boca
não cubra mais tua ferida
entre/aberto
em teus ofícios
é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas
e minha veia mais aberta
é mais um rio que se espalha
amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio
o que me dói é ter-te
devorada por estranhos olhos
e deter impulsos por fidelidade
ó terra incestuosa
de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos teus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal de amante 
minha terra
é de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta – avança
plantada em ti
como canavial que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho a luta
mesmo sabendo – o vão
estreito em cada porta 
Moenda 
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e 
do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
: o saldo e o lucro
Poema do livro Suor & Cio – 1985
Gravado pelo autor no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – 2002 
e na antologia pessoal  Pátria
A(r)mada 2022
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