Teatro
do oprimido
Teatro do Oprimido (TO)É um método teatral que
reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais elaboradas pelo teatrólogo
brasileiro Augusto Boal. Os seus principais objetivos são a democratização dos
meios de produção teatral, o acesso das camadas sociais menos favorecidas e a
transformação da realidade através do diálogo (tal como Paulo Freire pensou a
educação) e do teatro. Ao mesmo tempo, traz toda uma nova técnica para a
preparação do ator que tem grande repercussão mundial.
No começo dos anos sessenta, Boal era diretor do
Teatro de Arena de São Paulo. Um dia, durante uma viagem pelo nordeste, estavam
apresentando para uma liga camponesa um musical sobre a questão agrária que
terminava exortando os sem terras a lutarem e darem o sangue pela terra. Ao final
do espetáculo um sem terra convidou o grupo para ir enfrentar os jagunços que
tinham desalojado um companheiro deles. O grupo recusou e, neste momento, Boal
percebeu que o teatro que realizava dava conselhos, que o teatro deveria ser um
diálogo e não um monólogo.
Até este momento tudo não passava de uma ideia a
ser desenvolvida. Somente em 1971 no Brasil, nasceu a primeira técnica do
Teatro do Oprimido: o Teatro Jornal. Continuando a crescer, o TO desenvolve
estabelecer um diálogo entre as Nações Indígenas e os descendentes de espanhóis
na Colômbia, na Venezuela, no México... Hoje, essas formas são usadas em todos
os tipos de diálogos.
Na Europa, o TO se expandiu e veio à luz o
Arco-Íris do Desejo — inicialmente para entender problemas psicológicos, mais tarde
para criar personagens em quaisquer peças. De volta ao Brasil, nasceu o Teatro
Legislativo, para ajudar a transformar o Desejo da população em Lei — o que
chegou a acontecer 13 vezes. Agora, o Teatro Subjuntivo está, pouco a pouco,
vindo à luz.
O TO era usado por camponeses e operários; depois,
por professores e estudantes; agora, também por artistas, trabalhadores
sociais, psicoterapeutas, ONGs. Primeiro, em lugares pequenos e quase
clandestinos. Agora, nas ruas, escolas, igrejas, sindicatos, teatros regulares,
prisões...
Além da arte cênica propriamente, também existe a
finalidade política da conscientização, onde o teatro torna-se o veículo para a
organização, debate dos problemas, além de possibilitar, com suas técnicas, a
formação de sujeitos sociais que possam fazer-se veículo multiplicador da
defesa por direitos e cidadania para a comunidade onde o Teatro do Oprimido
está a ser aplicado.
Aplicado no Brasil, em parceria com diversas ONGs,
como as católicas Pastoral Carcerária[1] e CEBs (Comunidades Eclesiais de
Base), ou movimentos sociais, como o MST, as técnicas de Boal ganharam mundo,
sendo suas obras traduzidas em mais de 20 idiomas, e ganhando aplicação por
parte de populações oprimidas nas mais diversas comunidades, como recentemente
entre os palestinos[2]
A Lei nº 13.560, de 21 de dezembro de 2017,
instituiu o dia 16 de março, como "Dia Nacional do Teatro do
Oprimido", em homenagem à data de nascimento de seu criador, o teatrólogo
Augusto Boal[3].
Índice
1 Teatro do Oprimido
1.1 Teatro-Jornal
1.2 Teatro Imagem
1.3 Teatro Invisível
1.4 Teatro-Fórum
1.5 Arco-Íris do Desejo
1.6 Teatro Legislativo
1.7 Evolução: a Estética do Oprimido
2 Notas
3 Referências
4 Ligações externas
Teatro do Oprimido
O Teatro do Oprimido é um método estético que sistematiza
Exercícios, Jogos e Técnicas Teatrais que objetivam a desfiguração física e
intelectual de seus praticantes, e a democratização do teatro.
O TO parte do princípio de que a linguagem teatral
é a linguagem humana que é usada por todas as pessoas no cotidiano. Sendo
assim, todos podem desenvolvê-la e fazer teatro. Desta forma, o TO cria
condições práticas para que o oprimido se aproprie dos meios de produzir teatro
e assim amplie suas possibilidades de expressão. Além de estabelecer uma
comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores.
Dentro do sistema proposto por Boal, o treinamento
do ator segue uma série de proposições que podem ser aplicadas em conjunto ou
mesmo separadamente.
Cumpre ressaltar que todas as técnicas pressupõem
a criação de grupos, onde o Teatro do Oprimido terá sua aplicação.
Teatro-Jornal
O Teatro-Jornal foi uma resposta estética à
censura imposta, no Brasil, no início dos anos 70, pelos militares, para
escamotearem conteúdos, inventarem verdades e iludirem. Nesta técnica,
encena-se o que se perdeu nas entrelinhas das notícias censuradas, criando
imagens que revelam silêncios. Criada em 1971, no Teatro de Arena de São Paulo,
esta técnica foi muito utilizada na época da ditadura militar brasileira, para
revelar informações distorcidas pelos jornais da época, todos sob censura
oficial. Ainda hoje é usada para explicitar as manipulações utilizadas pelos
meios de comunicação.[4]
Teatro Imagem
No Teatro-Imagem, a encenação baseia-se nas
linguagens não-verbais. Essa foi uma saída encontrada por Boal para trabalhar
com indígenas, no Chile, de etnias distintas com línguas maternas diversas, que
participavam de um programa de alfabetização e precisavam se comunicar entre
si. Esta técnica teatral transforma questões, problemas e sentimentos em
imagens concretas. A partir da leitura da linguagem corporal, busca-se a
compreensão dos fatos representados na imagem, que é real enquanto imagem. A
imagem é uma realidade existente sendo, ao mesmo tempo, a representação de uma
realidade vivenciada.[5]
Teatro Invisível
O Teatro-Invisível que, sendo vida, não é revelado
como teatro e é realizado no local onde a situação encenada deveria acontecer,
surgiu como resposta à impossibilidade, ditada pelo autoritarismo, de fazer
teatro dentro do teatro, na Argentina. Uma cena do cotidiano é encenada e
apresentada no local onde poderia ter acontecido, sem que se identifique como
evento teatral. Desta forma, os espectadores são reais participantes, reagindo
e opinando espontaneamente à discussão provocada pela encenação.[6]
A preparação do Teatro Invisível deve ser como a
de uma cena normal, reunindo os principais elementos: atores interpretando
personagens com caracterizações, ideia central; deve haver um roteiro
pré-estabelecido, apresentando princípio, meio e fim e que deve ser ensaiado. A
diferença consiste em ser uma modalidade que não revela ao público tratar-se de
uma representação.
Pode ou não ser uma representação pessoal,
variando em vários aspectos como econômico e social.
Teatro-Fórum
A dramaturgia simultânea era uma espécie de
tradução feita por artistas sobre os problemas vividos pelo povo. Aí nasceu o
Teatro-Fórum, onde a barreira entre palco e platéia é destruída e o Diálogo
implementado. Produz-se uma encenação baseada em fatos reais, na qual
personagens oprimidos e opressores entram em conflito, de forma clara e
objetiva, na defesa de seus desejos e interesses. No confronto, o oprimido
fracassa e o público é estimulado, pelo Curinga (o facilitador do Teatro do
Oprimido), a entrar em cena, substituir o protagonista (o oprimido) e buscar
alternativas para o problema encenado.[7]
Arco-Íris do Desejo
Nos anos de 1980, na França, Augusto Boal e
Cecília Boal se deparam com opressões ligadas à subjetividade, sem relação com
uma agressão física ou um impedimento concreto na vida cotidiana. Um arsenal de
técnicas que analisam os opressores internalizados, o Arco-Íris do Desejo, foi
a resposta a esta demanda. Conhecido como Método Boal de Teatro e Terapia, é um
conjunto de técnicas terapêuticas e teatrais utilizadas no estudo de casos onde
os opressores foram internalizados, habitando a cabeça de quem vive oprimido
pela repercussão dessas ideias e atitudes.[8]
Teatro Legislativo
No Teatro Legislativo, além das intervenções na
ação dramática, os espectadores também são estimulados a escreverem propostas
de leis, que visem à resolução do problema apresentado. Essas propostas são
recolhidas e entregues à Célula Metabolizadora: equipe formada por um
especialista no tema encenado, um assessor legislativo e um advogado com
experiência na área, cuja função é fazer a "metabolização" das
propostas, ou seja, analisá-las e sistematizá-las, para que sejam novamente
encaminhadas à plateia para discussão e votação, ao final da apresentação,
quando se instaura a Sessão de Teatro Legislativo.
Através dessa iniciativa foram produzidas até 2008
doze leis municipais, um decreto legislativo, uma resolução plenária, duas leis
estaduais e dois projetos de lei em tramitação, na cidade e no estado do Rio de
Janeiro, todas oriundas da interação de grupos populares com a população. Esses
resultados demonstram a viabilidade da democratização da política através do
teatro, que estimula o exercício da democracia direta e participativa.
Evolução: a Estética do Oprimido
As iniciativas de Boal e do CTO-Rio, dentro dos
propósitos do Teatro do Oprimido vêm sendo ampliadas constantemente. Assim,
integrando o Sistema, está sendo desenvolvida a "Estética do
Oprimido". Esta tem por fundamento a certeza de que somos todos melhores
do que pensamos ser, capazes de fazer mais do que realizamos, porque todo ser
humano é expansivo.
A proposta é promover a expansão da vida
intelectual e estética de participantes de Grupos Populares de Teatro do
Oprimido, evitando que exercitem apenas a função de ator, que representa
personagens no palco. Os integrantes desses grupos são estimulados, através de
meios estéticos, a expandirem a capacidade de compreensão do mundo e as
possibilidades de transmitirem aos demais membros de suas comunidades - bem
como aos de outras - os conhecimentos adquiridos, descobertos, inventados ou
re-inventados. (2007).
Notas
BOAL, Augusto - Teatro do oprimido e outras
poéticas políticas. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2005. Edição
revista; (ISBN 85-200-0265-X)
BOAL, Augusto - "Técnicas Latino-Americanas
de teatro popular: uma revolução copernicana ao contrário". São Paulo:
Hucitec, 1975.
BOAL, Augusto - "Stop: ces’t magique".
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.
BOAL, Augusto - "O arco-íris do desejo:
método Boal de teatro e terapia". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1990.
BOAL, Augusto - "Teatro legislativo",
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
BOAL, Augusto - "Jogos para atores e
não-atores". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
BOAL, Augusto - "O teatro como arte
marcial". Rio de Janeiro: Garamond, 2003.
BOAL, Augusto - "A Estética do
Oprimido". Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
Fulinaíma MultiProjetos
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